Sexta-feira no Blog do Alex Fraga é dia de poesia com a professora universitária, poeta e escritora de Dourados (MS), Gicelma Chacarosqui, com: "Ivinhe-mar"

"Ivinhe-mar"
O Ivinhema se arrasta
procurando o mar Mato e sentidos se
impregnam As cores hipnotizam
nossas vistas Os corpos se deixam
envolver pelas nuances
irresistíveis Do bafo caloroso do
sol O baque da noite
assalta o dia E luzes fulgazes se
refletem na escuridão Jaguatirica
negaceando jaó
No estalar dos galhos O pisar pardo do gato
que onça Num miado rouco que
pinta sua pele De longe ou de perto O mugir da vaca
se mistura com o
farfalhar Da capivara que anda
majestosa
A noite se vai enfeitada
por um tapete celeste De milhares de
pontinhos luminosos e
infinitos
No despontar da
papaceia Ecoa a revoada de
quero-queo Pássaros pretos,
periquitos ao lero-lero Curruilas riscando o ar
O Ivinhema não para Mansamente lambe os
barrancos Rumo ao mar
Papagaios e araras,
pássaros-flores Sinfonia de sons e
cores Tingem o céu,
as árvores, o respirar…
Em meio às sombras o sol esquenta,
ilumina, fogueia: os homens, a terra, o
pasto o amar
O Ivinhema não para, ignora o tereré,
o assoreamento, teimosamente buscando o mar
Os dias se arrastam Na mistura de tons
cores e sons Que empastam o
tempo Com o musgo dos
sapos O metamorfosear das
borboletas E das cobras que não
deixam rastro Dos tatus que entocam
a noite Que arroxeia o
horizonte de todos os
dias
Ninguém para o
Ivinhema Que se arrasta
infinitamente rumo ao
mar
E leva com ele o azul do
corgo As asas do piravevê O dourado do guirai O espraiar do vitória Mistura guaicuru das
águas Até cair num mar de
glória e
O Ivinhema doce virar
salgado mar
Rascunhos de Luz, 2009 pág. 69)
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