Poesia - Estilingue, por Fabiano Pereira
- Alex Fraga
- 15 de fev.
- 2 min de leitura

Sábado no Blog do Alex Fraga é dia de poesia com o empresário, e poeta de Dourados (MS), Fabiano Pereira, com "Estilingue".
ESTILINGUE
Guri foi caçar passarinho,
De longe viu voando o sabiá.
Ele era conhecido por aqui,
Da janela cantava sem parar.
De manhã não podia dormir,
E quis, enfim, se vingar.
Garrou seu borná e estilingue,
Calçou no couro a pedra polida,
Buscou, com olhos de lince,
Encontrar a ave escondida.
Quando me viu lá em cima,
Bem no galho do ipê,
Eu o vi e virei de lado,
Parecia saber de fato,
Esperava só o impacto
Do que ia acontecer.
Começou a esticar a borracha,
A forquilha envergou pra trás,
E na outra mão firmava
A minha bala de prata.
“Aqui sabiá não canta mais.”
Vi a cena feita na minha mente,
Começou então o couro soltar,
A pedra algoz voa pra frente,
Derrubando a ave inocente.
Nem sei onde fui parar.
Caí ali desfalecido,
Guri começou a chorar,
“Estou tão arrependido,
Não queria machucar.
Me sinto agora um bandido,
Réu confesso ao atirar.”
Segurou a ave na mão,
Com todo cuidado então,
Querendo não ter me matado,
Que já tenha perdoado,
Pois nesse ato macabro,
Só causou judiação.
E não é que a ave viveu?
Bateu asas e foi pra lá.
Ele pegou o bodoque e correu,
Com vergonha de olhar.
Enfiou bem fundo na gaveta,
Para nunca mais encontrar.
“Sabiá, que me perdoe,
Nunca mais vou te caçar.”
Ele sabe que o sabiá está vivo,
Foi embora pra outras bandas.
Só lhe restou ficar sentindo
Falta daquelas lembranças,
De quando eu temprano cantava,
Enquanto ele cedinho acordava
E reclamava da minha cantança.
No trajeto dessa vida,
Um estilingue carregamos.
Deixe-o bem guardado,
Escondido em algum canto.
Pra não atirar em ninguém,
Para não sair machucando.
O gorjeio é pro seu bem,
Seja grato pelo canto.
Fabiano Pereira
Que delícia de ler e viver cada movimento... se calhasse meu avô estivesse vivo... eu leria pra ele e ele, devagarinho ia falando as palavras finais em rima... muito linda mesmo
Fabiano, seu poema é como um sabiá: canta com pureza e toca a alma. Que delicadeza transformar uma cena tão simples em uma lição de vida tão profunda!