Poesia - Enredo de roça, por Paulo Portuga

Quarta-feira no Blog do Alex Fraga é dia de poesia com o professora, músico, compositor e poeta Paulo Portuga (Dourados MS), com Enredo de roça.

ENREDO DE ROÇA

Mina d’água

Jazida preciosa

Um filete cresce

No percurso desce

A Serra de Maracaju

Que é papagaio verde

Da cabeça amarela

Na língua tupi-guarani

Vai para o rio

Montar acampamento

Encharcar os pés no chão

Caminho é de poeira

Que se desfaz

Nas águas do Piri

Na pedra cinzenta

Loca de cascudo

No quintal

Poncã se perde

Machado na madeira

No fogão a lenha morre

O fogo nasce

Transformando em cinzas

Fumaça sobe

Hoje tem pirão

De peixe com pimenta

Amarelão briguento

Não queria sair do rio

Temperado com sal

E limão cravo

Farinha veio de longe

Do quilombo de Furnas

Não se faz por ali

Entre goles ardentes

Ver estrelas

Escutar causos

Estórias de gente simples

Como a do curandeiro

Que passou por lá

Naquele lugar ermo

Fazendo bondades

Um velho xamã

Desenterrando maldades

A noite dorme

Ao som dos grilos

E antes do sol sair

Dona Chiquita acordou

Ordenhou a vaca

Esperou coalhar

Fez o queijo

Depois descansa

De barriga cheia

Leite para os meninos

Sonhos para os homens.