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Poesia - Caolhos Cosmopolináufragos, por Paula Valéria Andrade

Foto do escritor: Alex FragaAlex Fraga

Sábado no Blog do Alex Fraga é dia de poesia com a escritora e poeta de São Paulo (SP), Paula Valéria Andrade, com Caolhos Cosmopolináufragos.


Caolhos Cosmopolináufragos


La dentro, estalo. Me abalo. Bebo o pensamento no gargalo.

Quem sou eu? Quem eh vc? Porque a gente tem que responder ?

Rachaduras não se fixam mais

Estão ali para sempre marcando o uso , o desuso

e o desgaste do que eh seu, meu, nosso.

Coisas ,não são gente.

Coisa obvia falar disso.

Mas como retratar arranhados invisíveis,

daqueles que soam no ouvido por um longo tempo ?

Ou um olhar torto, de um peixe morto

Que se debate caolho ? Visão turva de um engodo.

Seria inocência pensar retocar tudo, tal qual maquiagem,

de que tudo esta puro e cheirando a novo

como que recém saído da embalagem ?

Coisas também carregam memorias preciosas

Deixa estar o que não temos medida ou ciência

A vida acontece quando você menos espera,

E não entra pela porta da frente e nem pela janela,

ela te surpreende.

As coisas estão só de passagem.

A gente também. Trocamos de pele

de casas, de vozes, de amores, de cabelos

Sentimos dores, crescemos pelos.

La dentro estalo. Me abalo.

Sinto um soco oco. Desamparo.

Já não sei quem sou eu

ou quem eh você. Acho que morrerei sem saber.

Não sou cego,

Sou caolho

Meu olhar reto

Ficou torto

Quase morto neste mar

de náufragos

de abalos sísmicos

e tsunamis diários nas vidas do planeta

nossas certezas são pernetas

soldados do exercito de Brancaleone

Sou um cidadão comum

Uma pessoa qualquer , maldita ou bendita

Um olhar caolho sôfrego flutuante

Neste tratado da cegueira induzida reinante

Que distancia e ofusca meu olhar

Nessa vida cosmopolita,

Deveras suja, deveras polida,

Organizada e bandida

Não consigo mais focar penetrante

Sou um avatar que passa na praça

E muda as vestes dependendo da avenida

Surfo rasteiro no asfalto ou navego alto

Como um náufrago nessa nau do cosmos,

Um caolho peixe no salitre do mar morto

Me oxido, exorciso e me salvo,

Minha plateia eh muda, não tenho palco e nem me exalto.


Sou um cosmopolináufrago

 
 
 

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