Poesia - Astro por Rastro, por Isaac Ramos

Segunda-feira no Blog do Alex Fraga é dia de poesia com o poeta e escritor de Campo Grande (MS), Isaac Ramos, com Astro por Rastro

ASTRO POR RASTRO

Amanheço numa tarde em que o dia já vai longe

E tão longe, tão longe que me enxerga como uma miragem

Feito forasteiro tomo a rota, toma nota, tomo o mundo

E todo mundo me persegue como a um Raimundo

Roto ultrapasso a cortina de céu, fogo e fumaça

E me embaço, embaraçando-me nas azuis montanhas

De opacidade diáfana, que me consomem num fogo fátuo

E traço-a-traço a noite enluva a tarde inata

Então entardeço e sepulto a perene velhice

Enquanto isso a poesia sentinela já não se vela

E sim revela uma paisagem tosca se mostrando Cinderela

Dispenso e disperso os acontecimentos fáceis e retráteis

Porém me delato e enquadro nos versos livres e lépidos

Serpenteando pelos corpos postados nos pórticos poéticos

E silvo lentamente por entre as farpas dos fados

Fadado, enjanelo-me para apreciar a poesia tagarela

Faço um vão sobre um vau futuro com um pedaço de carvão

Carreando a fantasia, a fantalesma, a fatalidade

E por tanta frama sou castigado como um sicofanta

Por isso anoiteço, e me estilhaço no meio da Via-Láctea