Sábado no Blog do Alex Fraga é dia de poesia com a poeta e escritora paulista, Paula Valéria Andrade, com seu poema intitulado "As Coisas Mutáveis".
As Coisas Mutáveis
Fico desapontada e enlouquecida da vida
com a medida de tempo
e esforço
que damos para as coisas mutáveis.
Casas apodrecem em ruínas –
paredes descascam, tijolos se lascam
e dão mofo,
tubulações enferrujam
esgotos entopem
telhados despedaçam e criam goteiras
vidros se quebram
e surgem teias de aranhas
e também cupins nas madeiras.
Carros morrem lentamente...
desgastam o motor
o carburador
o vento não venta mais na ventuínha
já sem giro
os freios tem suas pastilhas
que se acabam corroídas
e rompem-se o cabo do acelerador,
ficando ele parado na esquina
ali e sem vida.
Roupas desaparecem...
desbotam-se as cores
descosturam-se as linhas
e ficam os poídos de traças.
Sem contar a moda que passa.
E para esses elementos todos
damos a nossa
mais suprema lealdade
e preciosas horas de atenção
na idealização de suas conquistas
sendo sempre todas muito bem vistas.
E toda a tecnologia e mineração
se mobilizam
para produzir
um grampo de cabelo.
E a mutabilidade
traz dinâmica
nas coisas
que o tempo
se encarrega
de reciclagem
ou descarte
ou eterno retorno
ao pó.
Independente
ou não do desespero
da fragilidade
ou do tempo de passagem.
Amostragem dos fragmentos
de nossas levianas
e tolas lealdades
na esperança de vitórias.
Mas nada muda -
seja qual for a história –
O tempo de memória.
Do livro Comospolinaúfragos 2022
©Paula Valeria Andrade - 2004
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