Amuleto dos poetas
Sylvia Cesco
Minha gaveta é mãe ciumenta
de certas bugigangas
que guardo com carinho
nestas andanças tantas:
-1 sapatinho velho de criança
-2 cartas recebidas da Argentina
-1 catecismo amarelado e já sem serventia
que acompanhou as noites de uma infância
mal dormida.
Também existem as folhas outonais
entristecidas:
amuletos dos aprendizes de poeta
que desejam florir em invernos amarelos
quais girassóis vangoghianos de agonia
e essas são incontáveis,
esparramadas dentro do útero engavetado
aprisionadas que foram pelo Tempo,
senhor das absolutezas dos espinhos.
Mas eu, e somente eu, que as guardei,
sinto ainda o perfume verde-vivo de suas clorofilas,
invadindo as minhas memórias intraquilas
de todos os sonhos que não realizei...
Parabéns, Ainda tens o útero engavetado e os sonhos guardados, para uma gestação futura