Segunda-feira no Blog do Alex Fraga é dia de poesia com o poeta, professor universitário e escritor de Campo Grande (MS), Isaac Ramos, com Amor, Fogo e Primavera.
AMOR, FOGO E PRIMAVERA
O primeiro amor é lenha verde
Que se aquece com o fogo
Se enfurece com o vento
Se encabula com a água
E se inquieta com o tempo.
A paixão que cohabita nos corações alheios
Principia como centelha e queima,
Queima como um pavio.
É uma criança que faz festa
numa noite de natal
E depois se esquece que Papai Noel logo vai.
A primeira noite é uma poesia imaculada
Que se despe do poema como uma sereia
se veste de mulher
Pega fogo como carvão, mas depois deseja
Que a madeira seja carne de angico
Pegue fogo a noite inteira
E deixe em brasa as carícias.
Por todo o corpo se desfaz
a fealdade do sexo
Que as fibras hercúleas
Trançam e trocam desejos
Enquanto a humanidade inteira
Consideram-nos titãs.
Entre estalos e espasmos
Findam a luta no fim da gruta
Para se tornarem apaixonados hereges.
O primeiro amor viaja numa carruagem de abóbora
E depois que amadurece
Solta as rédeas e se comporta
Como domingos e feriados
Porém, quando a semana recomeça
Fica um gosto de ressaca como um sonho bêbado
Que dura tanto, doura e depois sara.
No badalo da meia-noite as rodas cedem
Um sonho acaba, o amor requebra
E fica o Nada.
Primavera, floresça nas almas encorpadas.
Perdoa os homens precipitados
Assim como as mulheres desenganadas.
Fecha as cortinas do mau-olhado
E ilumina as veias dos corações castigados.
Do fogo, apenas as cinzas do passado
Ressuscita o verde que ficou ao meu lado
encubra o cinza e o amarelo
Estampados no meu porta-retratos.
Oh, primavera! Desabrocha nos corações de gelo
Que as suas pequeninas almas
Foram muito castigadas pelo inverno
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