Sexta-feira no espaço de poesia do Blog do Alex Fraga, "Amanajé', poema da escritora e poeta sul-mato-grossense Sylvia Cesco.
Amanajé
Sylvia Cesco
Meus pobres irmãos,
quão triste é sabê-los ...
Dói-me o coração, a voz me cala
diante de tamanho desmazelo
para com sua gente, povo primeiro
destas terras.
Confesso que de onde estou
não posso ouvi-los e nem vê-los :
-lá fora , há algazarras e buzinas de carros
celebrando sabe-se lá o quê ...
porém , posso senti-los
como se guató também eu fora,
ou quem sabe guarani, kadiweu ou índia terena ?
Sou uma auati irmanada com suas dores plenas
impedidos que são de ver nascer da terra a flor
enquanto a pranteiam tal como a mãe que perde um filho
agonizando sem voz, sem verde e sem viço .
Oh, meus irmãos, pobres irmãos!
Aqui, do meu tekoha urbano
também choro por todos vocês,
pelos seus frutos que murcharam antes da colheita,
seus bichos queimados em fogueiras de ambição.
Quero juntar-me à sua triste sina de refazer o canto
dos jaós, das juritis, dos sanhaços e sabiás.
Deixem-me dar- lhes as mãos na travessia
dos muros do impossível .
Oh, meu povo amado!
Até quando nossa dor invisível inda será necessária?
Até quando vão nos mostrar extensas garras de cobiça?
Antes pois que o tempo que a tudo desperdiça,
nos deixe em perpétuo estado de mudez
selemos, meus irmãos, nossa boda imaginária
sob as luzes cintilantes de românticos urissanês
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