Estreia no Blog do Alex Fraga agora estando todos os sábados, Paula Valéria Andrade, poeta, escritora, professora, designer e artista audiovisual. Nasceu no Rio de Janeiro, vive em São Paulo. Publicou poesia, arte-educação, didáticos e literatura infantil. Recentes de poesia: A Pandemia da Invisibilidade do Ser, 2019; O Novo no Ovo, poesia transmídia, 2021; Seios da Face, 2022; e o livro infantil Fuzuê no Manguezal, 2022. Prêmios literários na Itália, Portugal, EUA, Alemanha, e brasileiros: Jabuti, UBE, ProAC Poesia SP, Prêmio Guarulhos de Literatura e APCA. Recebeu o Prêmio Histórico de Realização Em Literatura ProAC LAB SP, 2022. Criadora e organizadora desde 2017, do coletivo Feminino Infinito.
A Cidade, Escangalho da Retina
A carne pura.
A carne dura.
A carne atura,
o trabalho que vaza o vazio das mãos.
Sem comer, seco de beber.
A carne cura a falta de sono ou afeto,
que a vida dura sutura.
A carne aguenta loucuras de violências
ou querências dos jogos de guerra,
na face sombria da Terra.
A carne fraca emperra e empurra o que a vida não cura.
Apura sofrimentos sedentos.
Agrura de rebentos caminhando em desalento
entre carros parados do trânsito lento.
A carne arde, covarde.
Boiando no vácuo do asfalto no engarrafamento,
vapor do calor do cimento.
Uma dose de chuva diz toda a tempestade.
Inunda cidades.
Fiapos de recomeços nos viram do avesso.
A voz, olha o que morde foge.
A retina escuta a força bruta.
Ruptura liberta da agrura, da dita dura
*Poema do livro “O NOVO NO OVO”, Selo SPVI BOOKS, 2021 – Prêmio PROAC SP 19/20
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