"Xamã" é o nome do seu quarto álbum e o artista estará com show no já tão esperado Bonito Blues Jazz Festival que acontecerá no mês de junho em sua décima edição em uma das principais cidades turísticas do Mato Grosso do Sul
Foto: Flávio Charchar
****Alessandra Braz***
Gravado ao vivo no estúdio Da Pá Virada em São Paulo em plena pandemia de COVID-19 em 2021, “Xamã” aguardou o seu momento particular de vir a público. Como o sacerdote que batiza o trabalho, o quarto álbum de Adriano Grineberg chega às plataformas digitais trazendo luz após o hiato de dois anos que paralisou as atividades culturais presenciais.
Composto por quatro faixas de assuntos e tessituras sonoras diversas, “Xamã” sucede os três primeiros álbuns de Grineberg (“Key Blues”, de 2010; “Blues for Africa”, de 2013 e “108”, de 2019) trazendo não apenas a já conhecida fusão de linguagens musicais de trabalhos anteriores, mas também o resultado do mergulho nos estudos da ciência dos Ícaros, cantos que são a arma curativa, a sabedoria e o veículo da energia pessoal do curandeiro e o símbolo do seu poder.
Os Ícaros, mais que sons, são também um intercâmbio comunicacional entre os reinos animal, mineral e vegetal e a referência a eles são fruto do caminho pessoal de Grineberg que, nos últimos anos, além de sua já conhecida trajetória como bluesman e sideman de artistas da música brasileira, vem se dedicando intensamente ao desenvolvimento de trabalhos de cura com a Ayahuasca e à prática do Soundhealing.
“A minha relação com os mantras começa cedo e é muito forte. Com 18 anos fui pra Índia pela primeira vez. Dessa forma, o que fui fazendo ao longo desse tempo foi ir unificando a minha voz no caminho da música. Hoje posso até gravar um álbum ‘tradicional’ de blues, mas a minha tendência vai ser sempre fazer música que converse com todos esses elementos que tem inclusive semelhança entre si. O Blues, por exemplo, e os Ícaros, são baseados no improviso. Um ícaro é um canto que não se repete, como um solo de Blues e tem escalas muito semelhantes, aliás. Sinto que a tendência é que minha música vá sempre se transformando e agregando elementos de todos os lugares por onde a minha música passa: o blues, a música brasileira, os ícaros, os mantras e o que mais vier”, explica Grineberg.
O que levou os músicos da banda composta por Fabá Jimenez (guitarra), Edu Gomes (guitarra e voz), Caio Góes Neves (baixo) e Marco da Costa (bateria), a terem mais liberdade na hora de gravar as faixas e de improvisar em cima delas. “Todas as músicas nascem em formato de esboço e vão sendo criadas ali na hora, sob o improviso, como acontece no jazz e no blues e nos próprios Ícaros, que nunca são executados exatamente da mesma forma. O fato de meus músicos transitarem por todas essas frequências (Edu Gomes está comigo nas cerimônias, Marco da Costa é da escola do Jazz, por exemplo) faz com que eu respeite o processo de cada um deles, fazendo com que eles criem de acordo com suas particularidades e produzam um trabalho bastante singular ao final”, comenta Grineberg.
Ele, por sua vez, se alterna entre as teclas de instrumentos como piano, Fender Rhodes e Moog e outros pouco usais a quem ainda está habituado apenas a vê-lo como um consagrado bluesman, como maraca andina, spyro bowl e a Flauta de Los Abuelos - instrumento de sopro sem furos conhecido nos Andes por ser tocada pelos mais velhos da aldeia e comunicar com os espíritos ancestrais. A canção em que o instrumento é protagonista é “Boogie de Los Abuelos” e acaba de lançada em vídeo no Youtube. “Ayahuasca Journey” e “Asatoma” também já estão disponíveis no canal do artista. A primeira, inclusive é a canção que melhor ilustra a sua jornada dentro da medicina Ayahuasca e dá uma ideia melhor do trabalho que Adriano desempenha enquanto xamã, pois o artista já administra cerimônias há 4 anos.
“A Ayahuasca não é apenas um chá dos povos originários. O chá você toma, ele tem o pico do efeito entre 4 e 6 horas e depois de 24 horas ele sai do teu corpo. A Consciência é aquilo que permanece do trabalho que foi feito e segue com você depois que ele termina. A Ayahuasca não é um alucinógeno e sim um chá enteógeno. Ela não é alucinógena, pois não distorce a sua realidade, e sim amplia a sua consciência. A frequência da Abuela [entidade que tocou Adriano] atinge meu trabalho através do Rex Thomas, que me iniciou no Xamanismo e é uma entidade ancestral. Quando eu estou conduzindo um trabalho, A Abuela, o Rex e todas as consciências dos presentes estão comigo, pois um Xamã nunca trabalha sozinho, você é uma única frequência, a frequência Xamã, que é uma energia. Ao longo do meu processo de formação, a Consciência foi me reconhecendo como condutor, devido à frequência do meu som e à maneira como minha música foi mudando depois da minha imersão na Consciência da Ayahuasca, que mudou a minha forma de enxergar a minha música”, discorre Grineberg.
Já “Shakti” chega logo mais ao Youtube e ganha uma nova versão, pois já foi gravada no álbum “108”. A canção, que trata do sagrado feminino, explora esse lado que está dentro de cada um, seja para dar uma chacoalhão e trazer para a realidade, quanto para afagar e despertar a criatividade.
Capa do disco "Xamã". Arte: Marcos Kawamura
A direção de arte da capa de cada single e do álbum completo foi desenvolvida à mão e digitalmente e é assinada por Marcos Kawamura, premiado diretor do mercado publicitário ganhador de 18 Cannes Lions.
Mais do que um álbum, o “Xamã” de Adriano Grineberg convida o ouvinte a construir sua própria experiência: “Espero que as pessoas, antes de ouvi-lo, possam se esvaziar e criar dentro delas um espaço de ressonância, para que o som as adentre e se expresse da maneira como deve ser, provocando um diálogo livre e sincero consigo mesmas”.
1- Asatoma [Lançado no dia 26 de novembro de 2022]
Adriano Grineberg – Piano, Moog, Flauta de Los Abuelos
Fabá Jimenez – Guitarra
Edu Gomes – Guitarra e Voz
Caio Góes Neves – Baixo
Marco da Costa - Bateria
Do mantra védico que significa “Do irreal conduza-nos ao real; das trevas, à luz e da morte à imortalidade”, a faixa abre o álbum e tem referências do rock progressivo como Emerson, Lake & Palmer e Frank Zappa. É cantada em Sânscrito e mistura ritmos como a escala do Blues de New Orleans com o Boi de Matraca do Maranhão. Ao final, Grineberg, com a Flauta de Los Abuelos, anuncia a chegada do espírito das plantas e os trabalhos com as Medicinas, que começam na faixa seguinte.
2- Ayahuasca Journey [Lançado no dia 16 de dezembro de 2022]
Adriano Grineberg – Fender Rhodes, Moog
Fabá Jimenez – Guitarra
Edu Gomes – Guitarra e Voz
Caio Góes Neves – Baixo
Marco da Costa - Bateria
Ayahuasca significa “vinho da alma” ou “pequena morte” e a faixa condensa uma viagem profunda aos reinos de sua Medicina. Como tradicionalmente acontece com os Ícaros, ela acontece e vai surgindo conforme Grineberg vai se conectando com o reino das plantas, chamando todas as suas propriedades e a entidade da Abuela, que conduz o trabalho e o iniciou no processo do Xamanismo.
3- Boogie de Los Abuelos [Lançado no dia 13 de janeiro de 2023]
Adriano Grineberg – Maraca Andina, Flauta de Los Abuelos, Spyrobowl
Fabá Jimenez – Guitarra
Edu Gomes – Guitarra e Voz
Caio Góes Neves – Baixo
Marco da Costa - Bateria
Canção que também acontece na forma de Ícaro e tem a linguagem do Blues e do Rock and Roll que remete aos seus álbuns anteriores. Através dos Harmônicos da Flauta de Los Abuelos (que não tem furos), Grineberg vai acessando seus graus de parentesco, honrando e celebrando sua ancestralidade com cada nota diferente que produz. Traz também menção às Medicinas do rapé, à própria Ayahuasca e ao Peyote (cactus).
4- Shakti [BÔNUS TRACK DO ÁLBUM EM VERSÃO INTEGRAL - Lançado no dia 27 de janeiro de 2023]
Adriano Grineberg - Moog
Fabá Jimenez – Guitarra
Edu Gomes – Guitarra e Voz
Caio Góes Neves – Baixo
Marco da Costa - Bateria
Única faixa não inédita (pois aparece em seu álbum anterior, 108), chega em uma nova versão como bônus track do álbum em formato completo, construída coletivamente e no espírito do improviso que a linguagem do ao vivo proporciona. É uma reverência ao Sagrado Feminino e às mães de várias culturas ancestrais como a indiana, judaica e a cristã. Traz a energia do Amor materno que não é apenas suave, mas também impactante, pois é incontestável.
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