Nesta quinta-feira (27) será lançado o livro Kamba’Racê do jornalista Sionei R. Leão e a canção Cambaracê*, composta por Moacir Lacerda e Vera Gasparotto, gravada este mês pelo Grupo Acaba. O evento será virtual, ou seja, uma live às 19h30 (horário Mato Grosso do Sul) e 20h30 (hora de Brasília). A pesquisa Kamba’Racê teve princípio no ambiente de uma unidade da guarnição de Campo Grande (MS), um jovem terceiro-sargento ouve de um superior relato sobre uma chacina que ocorreu na Guerra do Paraguai. Momento em que durante a Retirada da Laguna, o comandante da tropa brasileira decidiu abandonar 130 coléricos numa clareira e continuar a marcha, mesmo sabendo que os doentes seriam encontrados e possivelmente assassinados pelos paraguaios.
Ainda mais impressionante para o autor da futura obra foi tomar conhecimento que a clareira situada numa fazenda da região rural de Jardim é considerada pelas pessoas da região como mal-assombrada. Várias pessoas afirmam que durante a noite se ouve os gemidos os lamentos, os gritos das almas dos soldados que foram executados a golpes de lança e ao fio das espadas dos paraguaios. Por isso o nome Kamba’Racê, que equivale em guarani a lamento de negro.
O extermínio do Kamba’Racê ocorreu em 24 de maio de 1867, data em que o comandante da coluna brasileira, o coronel Carlos Alberto Camisão, após reunir-se com os mais importantes oficiais, tomou a decisão de abandonar os militares. Camisão abandonou os coléricos porque a tropa contava naquele momento com perto de 700 homens. Os que estavam sadios ameaçavam desertar por considerar um sacrífico ter de transportar em macas os doentes e ao mesmo tempo refutar os ataques dos paraguaios.
Esse foi o início da obra Kamba’Racê, de Sionei Ricardo Leão, ex-militar do Exército Brasileiro que se tornou jornalista e decidiu transforma o tema inicialmente numa pesquisa de pós-graduação. O conteúdo depois foi adaptado para documentário, premiado em 2005 pelo Ministério da Cultura/Fundação Cultural Palmares.
Sionei R. Leão também coordenou um seminário na Câmara dos Deputados, em novembro de 2006, sobre o assunto. Para lançar o livro, o jornalista fez adaptações e atualizações o que se traduziu uma edição instigante seja pelo texto seja pelas numerosas fotos e ilustrações. A obra não se resume a etapa da Guerra do Paraguai que teve por terreno o Mato Grosso do Sul, ou seja, nos primeiros anos do conflito. Um dos capítulos é dedicado a relatar sobre os zuavos baianos, companhias cujos membros oficiais e praças eram todos negros e que destoavam por utilizar um uniforme exuberante inspirados nos zuavos franceses e turcos.
O último capítulo do livro reúne, de forma inédita, biografias de oficiais generais negros do Exército Brasileiro, pesquisadas e descritas com zelo e reconhecimento. Como alerta o autor, a iniciativa do Kamba’Racê destina a valorizar, reconhecer, destacar contribuições e heroísmos de afrodescendentes em prol do sentimento pátrio.
Um dos objetivos é oferecer uma contribuição à história militar brasileira quanto ao aspecto da composição étnica da Força Terrestre, no qual desde a Guerra do Paraguai há forte presença de negros e pardos entre soldados, cabos, sargentos e em determinados níveis do oficialato.
O livro de 158 páginas foi publicado pela editora da Fundação Cultural Astrojildo Pereira (FAP) e está sendo vendido pela Amazon, por R$ 60,00.
Canção
Uma interessante coincidência foi a inciativa do Grupo Acaba ter gravado neste mesmo mês de maio a canção “Cambaracê”, que trata do mesmo episódio. Por esse motivo, Sionei R. Leão convidou um dos compositores Moacir Lacerda para ser painelista no lançamento do livro, nessa quinta-feira, 27 de maio, em referência a data da chacina. O famoso grupo Acaba se destaca pela excelência musical e pela pesquisa que faz da cultura e da história regional sul-mato-grossense.
CAMBARACÊ
(Canção de Moacir Lacerda e Vera Gasparotto)
Cambaracê êh êh
Cambaracê
Cambará
Cambará
Cambaracê
Sem Pátria, sem Território
O Sonho da liberdade
Negros escravos guerreiros
Rios, Campos, Pantanais
Rios, Campos, Pantanais
Fome, febre, fogo
Clareira aberta na noite
Fuga no meio das trevas
Da Laguna retirada
Cambaracê êh êh
Cambaracê
Cambará
Cambará
Cambará
Cambaracê
A chegada do anjo da morte
Grito calado no ar
O choro no meio da noite
O Sonho nunca mais
O Sonho nunca mais
* Sionei escreve com “K” o Kamba’Racê porque resgata, conforme está descrito no capítulo Akambas, camas e kambas as origens do termo no Kenya, com uma histórico na língua quimbundo de Angola, escravizados uruguaios que migraram para o Paraguai onde fundaram as cidades Kamba Cua e Kamba Kokue. Moacir e Vera optam pela forma aportuguesada, por isso a inicial com “C”.
Uau, que trabalho maravilhoso! Parabéns Sionei! Muito Sucesso!!! Parabéns colega Alex Fraga pelo destaque, merecido! Assim sentimos que ainda vale a pena viver... Saúde, Paz e Amor!