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Entrevista - Zé Geral: "Minha única intenção no Sarau é a democracia cultural!

A entrevista no Blog do Alex Fraga é com o músico, cantor e compositor Zé Geral que comenta sobre a edição número 1000 (mil) do "Sarau do Zé Geral", um espaço de artes diversas como música, teatro, poesia, dança entre outras. O evento acontece nesta quinta-feira (31), a partir das 19h30 min. Ele conta como foi a ideia de montar o local onde grandes nomes das artes já estiveram se apresentando.



Blog do Alex Fraga - O Sarau do Zé Geral completa sua edição número mil. Conte um pouco sobre como surgiu a ideia ?


Zé Geral - Cheguei em Campo Grande em 1989. Meu primeiro passo foi conhecer todas as qualidades das mangas e procurar me envolver com a música e os músicos daqui. A primeira artista que tive contato e que me dei muito bem, foi a multi MISKA, pois através dela, vendi todas as telas que eu pintava e tinha na bagagem e também conheci a Penha MN, um importante movimento cultural que existia na época e ficava na Afonso Pena, entre a Treze e a Rui Barbosa. A falecida Margarida Neder, tia do Paulinho Simões afetuou muito à mim e de minha frequência, nasceu uma amizade muito boa e acabei apresentando a Penha por um grande período. Lá conheci muitos artistas e vários deles, com outros que lá não iam, mas que fui conhecendo pela noite, já frequentavam minha casa, quando me instalei na Rua Treze de Maio em 1990. Depois da Miska e antes da Penha, eu conheci em um show na Praça do Rádio (ainda não existia a concha) o meu grande e querido amigo Geraldo Espíndola. Foi uma grande surpresa, pois no final do ano de 1989 eu não tinha encontrado ninguém que fizesse uma música que eu gostasse. Não tinha ideia, então, quão rica era a música daqui... O Geraldo foi o primeiro a frequentar minha casa. Com ele lá, brotaram muitas ideias, músicas e shows, inclusive, pelas noites da capital. Na época eu começaria a dar aulas de música e um de meus primeiros alunos foi um garoto tímido, afinado e cheio de ritmo, que acabei convencendo a acompanhar com uma timba, a mim e ao Geraldo, num bar que acabara de ser montado e nós estreamos a música lá. O bar chamava-se Trinidad e Tobago e o aluno era o Alex Kundera, que por conta disso, largou as aulas de violão, pois eu o convencí que seu instrumento deveria ser percussão, bateria, etc. Frequentavam então minha casa, entre outros, Adriano Magoo, Marcelo Ribeiro, Sandro Moreno, Gabriel Sater, Geraldo Ribeiro, Celito Espíndola, Toniquinho, Paulo Gê, Bibi do Cavaco e seu irmão pequeno, o garoto Wlajones; Paulo Simões, Jorapimo, Laércio Honorato, Roberto Maranhão, Zé Du, Gelton Borges, Joelma Nascimento, etc.... Em 1994, fui fazer uma temporada em João Pessoa e deixei a casa com o Roberto Maranhão, recém casado, por um período de 3 meses, enquanto ajeitava sua nova vida.. Voltei de lá, triste, pois, numa manhã de domingo, comigo cantando na praia, faleceu um ídolo meu e de todo o Brasil, que eu admirava muito: Ayrton Senna. Ao voltar pra Campo Grande a frequência dos músicos em minha casa se acentuou muito, pois eu fazia sempre um feijão por lá e muitos deles iam apreciar esta minha iguaria, além de outros quitutes que eu preparava. Comecei a comprar umas cervejas num supermercado que havia ali perto no “córrego” hoje Av. Fernando Correa da Costa, na intenção de cobrar uma portaria pra que o público que já frequentava, pudesse ir num dia determinado, pra isso, ouvir nossos shows, uma vez que a frequência, inclusive de público era grande, pois alunos e professores da Escola Vespasiano Martins, que fica na frente da casa onde tudo começou na Treze de Maio, 1477 e mais os transeuntes, começavam a adentrar à casa, quando nos ouviam e viam aquele movimento todo de entra e sai... Ou seja... Ali brotou a ideia que só receberia nome em 29 de janeiro de 1997, data da 1.a edição oficial do Sarau do Zé Geral, que nasceu de vez, depois da amiga Marines Correa, pedir meu quintal, alugado, para uma festa que ela queria dar. Eu dispensei o aluguel e disse à ela que já tentara fazer algo parecido, mas não dei conta, pois por mais de ano a frequência era só de músicos. Não entrava dinheiro, pelo contrário, só saia, pois nós consumíamos toda a comida e bebida, por mim compradas. Então pedi 10 por cento do que ela vendesse, para que eu não precisasse mais arcar com despesas para mim e os músicos e pudéssemos tomar nossas cervejas. Comecei a cobrar dois reais na portaria. Deu tudo muito certo e depois dela mandar seu fax para os jornais, uma importante TV de nossa cidade fez a matéria e das 60 pessoas por nós esperadas, vieram 150. Foi uma loucura. Na segunda edição vieram 200, depois 300, 500 e foi aumentando até chegar um ponto em que naquele pequeno espaço, se apertassem mais de mil...


Blog do Alex Fraga - De lá pra cá, passou por 14 endereços... É muito difícil estabelecer-se em um só local? Quais foram as maiores dificuldades?


Zé Geral - Sim. 14 endereços, até eu fixar-me de vez, desde 2012 no atual endereço, de novo em minha casa, à Rua Pasteur, 937, na Vila Piratininga. A dificuldade maior em estabelecer-se em um endereço era porque não tinha hora pra acabar. Três horas da madrugada e ainda chegava público e artistas. Era uma “loucura” e evidentemente agradávamos milhares, mas desagradávamos alguns vizinhos. Na longa trajetória foram muitas e intensas dificuldades, sempre por mim, resolvidas. Problemas com vizinho, instalações, som, usuários de drogas (problema este, que resolvi de vez, quando percebi e fui direto ao DENAR, pedir ajuda ao Delegado, que prontamente, além de me atender muito bem e sabedor da minha visita, pois eu havia marcado uma reunião, puxou de sua gaveta meu CD PAN e me pediu que autografasse. Pois bem... Deixei um pacote com 100 ingressos e durante dois meses seus agentes frequentavam na “surdina” e com roupas civis toda noite de quarta-feira à Treze de Maio, até culminar com a única vez em que a Polícia foi no Sarau e naquela única e derradeira vez, carregou 14 traficantes em dois camburões. Foi um alívio e depois de meu pronunciamento no palco, sobre, que fui eu que pedi aquela intervenção, o público bateu muitas palmas e ovacionou mais que durante os próprios shows. Um alívio e uma melhora sensível na energia do local. Nunca mais, nada do gênero acontecera em nenhum dos locais percorridos. Porém, depois que eu já estava por mais de uma década, morando na casa e com 4 anos de Sarau, mudou-se para a frente da casa um vizinho que tinha uma clínica dentária e lá morava com a família. Ele provocou um abaixo assinado e eu precisei me retratar perante o Ministério Público e tive um prazo de 2 meses para deixar o local. Começara então a peregrinação. E sempre por um motivo ou outro perambulei pela cidade, pela ordem: a) 26 de agosto em dois locais; b) Afonso Pena, em dois locais, onde hoje é o Camelódromo e no Círculo Militar; c) Rua Bahia, acima da Mato Grosso, na escola da Denise Kramer, que havia gravado em seu primeiro disco uma música minha “Pena Seca”; d) Rua Maracaju, quase esquina com a José Antônio; e) AABB no Parque dos Poderes, onde fora construído um grande sapé, chamado Espaço Cultural do Sarau do Zé Geral; f) Av. Calógeras (em frente à antiga Estação Ferroviária; g) Rua Pedro Celestino; h) Rua Pe. João Crippa (na Casa de Ensaio, oferecida gentil e gratuitamente pela proprietária Lais Dória) h) Barbaquá, no centro; i) ISMAC, na 25 de Dezembro; j) Av. Ernesto Geisel, em frente ao Shopping Norte Sul, que ainda estava em construção e vi sua inauguração; k) De novo na Ferroviária e agora e já há quase 12 anos, onde estou até o momento, na Vila Piratininga.


Blog do Alex Fraga - Você tem ideia de quantos artistas passaram no Sarau? Pode citar alguns desses que hoje são destaques no MS e fora dele?


Zé Geral - Claro que sim: Foram mais de 2.500 artistas. É muita gente... Pra você ter ideia da coisa, na edição 550, quando estávamos na Ferroviária, coloquei em uma só noite, 212 músicos no local. Sendo que 78 subiram ao palco e fizeram suas apresentações. Coisa para se estar no Guinness Book. Época em que alunos de jornalismo da UCDB, fizeram como monografia, um excelente documentário, por mim divulgado, vez ou outra, sendo que uma de minhas características é não fazer propaganda de mim mesmo. Houve durante estes anos todos, mais duas monografias, além de várias citações em jornais e revistas especializadas sobre música e arte, à nível nacional. Difícil citar nomes, pois são muitos, mas além dos descritos no início desta reportagem, poderia acrescentar os regionais Elinho do Bandoneon, Antonio Porto, Marcos Mendes e Maria Claudia, Sandra Menezes, Karina Marques, a ex-aluna Marina Dala, Beth Terras, o agora internacional Jonavo, Jerry Espíndola, Lincão e Linquinho Gouveia, Caio Ignácio, Andrea Freire, Melissa Azevedo, Luciana Pettengil, Maria Helena, Maestro Assis, Zé Pretim, Lucio Val, Carlão batera, Celso Scarcelli, Eloy Paulucci, João Bosco e O Bando do Velho Jack, Renato Fernandes e Os Bêbados & Habilidosos, os meninos do Piá Pançudo, que estrearam em Campo Grande, lá na Treze e hoje conhecidos como Muchileiros, Falange da Rima, Os impossíveis, Sputinik, Agemaduhomi, Jennifer Magnética e tantos outros que não pretendo desmerecer, mas que evidentemente não caberiam nestas poucas linhas, além de jornalistas e artistas de renome nacional e internacional, como você mesmo, meu amigo Alex Fraga, mais Roberto Higa, Carlos Voges, Oggi Ibrahim e os famosos Carlos Casa Grande e Mauro Naves, Bira do sexteto do Jô, Paulo Calazans, Humberto Espíndola, Daniel Argentina, Paulinho Moska, que me fez o seguinte pronunciamento, quando estávamos na 26 de agosto, lá perto dos hotéis na Afonso Pena: “Zé... Nasci no Rio de Janeiro, capital que considero o berço cultural do país. Mas lá em minha cidade, nunca vi nada parecido com o que você faz aqui. É fabuloso, indescritível, inacreditável. Vou contar lá pros meus amigos e será difícil de se acreditar nesta maravilha aqui do centro oeste”, além do fabuloso Yamandu Costa, quando ainda nem era tão famoso e que permaneceu, quando na Treze, por 3 horas no palco, integrando a banda de apoio e depois fazendo por cerca de 40 minutos sua apresentação solo. O “beiço” de todos os presentes veio abaixo!


Blog do Alex Fraga - Alguns acham que o seu Sarau deveria abrir mais espaço para lançamento de livro... Já teve esta intenção?


Zé Geral - Minha única intenção é a democracia cultural. O Sarau sempre foi aberto à toda manifestação artística e literária. Já houve vários lançamentos tanto literários, como musicais, teatrais, das artes visuais, inclusive com pinturas ao vivo como Jorapimo, Marilena Grolli, Raquel Alvarenga, Erika Pedraza, Vanda Ferreira, Luciano Alonso, Monique Merlone, Ryan Paes, Belletopias, entre outros...


Blog do Alex Fraga - O que está planejando para esta noite especial da edição 1000?


Zé Geral - Nada! Nunca em todas edições, fora planejado. Como sempre, não sei o que está por vir, nem faço questão de saber. E é exatamente isto, que diferencia meu Sarau de todos os outros, que modéstia à parte, foram criados a partir do Sarau do Zé Geral, o pioneiro, único, inimitável e dono do know how. Principalmente criados, quando eu mudava de um endereço pra outro e ficava por, às vezes, meses sem o fazer.

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