
A entrevistada desta quarta no Blog do Alex Fraga é Neide Fátima Bittencourt dos Santos - Neide Garrido, é uma das melhores bailarinas do Mato Grosso do Sul. Arte-educadora, diretora, professora, coreógrafa da Escola de Danças Isadora Duncan, assina obras que vão de espetáculos clássicos, modernos, jazz e de dança contemporânea. Atua ainda como instrutora do Método Autêntico Pilates Brasil/SP. Formada pela faculdade de Educação Física de Cruz Alta (RS). Freqüentou importantes escolas de ballet clássico, moderno e jazz no eixo Rio/São Paulo. Como profissional da dança procura sempre atualizar-se por meio de aprimoramento anual na técnica de dança moderna Lester Horton, nos estúdios Alvin Ailey American Dance Center, em Nova Iorque. Delegada no MS do Conselho Brasileiro de Dança. À frente do Ballet Isadora Duncan, trabalha formando bailarinos através do Método Royal Academy of Dance, de Londres, Inglaterra.
Blog do Alex Fraga - Nos seus 47 anos de carreira você acha que houve alguma mudança na visibilidade dos espetáculos de dança?
Neide Garrido - A dança no tempo, além do tempo vai mudando seu relêvo e sem deixar de manter sua relevância como a Arte do Movimento, nos encaminha e nos mostra possibilidades infinitas de como vê-la, senti-la e como expressá-la. As ideias, os movimentos nunca se repetem, mesmo que sejam inspirados em outros. Vejo a dança hoje, muito inquieta (característica nata) através de enxurradas de criações autorais que se divergem por vários caminhos, criando platéias que se identificam com isso ou aquilo, com o resultado que mais lhe toca. Isso é muito bom! O melhor espetáculo é aquele que nos ensina, nos fascina e nos emudece.
Blog do Alex Fraga - O Ballet Isadora Duncan é formador de grandes nomes da dança no Estado e que contribuiu e contribui muito com o surgimento de várias escolas que são dirigidas por seus ex-alunos. Qual é sua sensação sobre tudo isso !
Neide Garrido - De orgulho! De gratidão por não ter trilhado sozinha esse caminho!
As oportunidades surgiram desde de 1975 e foram agarradas com firmeza. Sabe, quando um foco intenso de luz é aceso na sua frente e você entra ali, porque acredita...e só consegue seguir adiante? Formamos um séquito que acredita, se renova e se ressignifica todos os dias na paixão pela dança em conduzir, formar,criar... Essa é uma homenagem a todos que entraram nesse foco comigo e acreditaram! É indecifrável a sensação da boa colheita, tocar quatro gerações e no fundo do olho de alguém que aparece de repente ver que tem um pedacinho de você ali.
Blog do Alex Fraga - Por que a dança clássica é tão elitizada ? Por que os órgãos governamentais não elaboram projetos sociais nos bairros com a comunidade carente ?
Neide Garrido - Acredito que há muito tempo deixou de ser elitizada...esse é o ponto do Graças a Deus! Isso é tudo que gostaríamos de vivenciar, salvo não fosse a "pressa" em ir para lugares que devem ser olhados com mais esmêro e preocupação. Existem sim muitos projetos socias, não só na dança clássica, mas em vários segmentos que deveriam passar por um crivo mais severo de análise dos proponentes. Precisamos nos unir fortemente para que a dança em todas suas tendências seja bem cuidada, preservada e conduzida com habilidade e competência. A dança como arte, formação e educação, envolve aspectos físicos e emocionais do ser humano como um todo. É complexo. É de extrema responsabilidade.
Blog do Alex Fraga - Qual é o papel dela e a importância na sociedade contemporânea ?
Neide Garrido - Dizia Isadora Duncan: "Se eu pudesse explicar, eu não precisaria dançar". A dança clássica é atemporal. Não tem como em qualquer tempo desmitificá-la ou negá-la. Faz parte da sociedade contemporânea em qualquer tempo! Nossas danças como por ex: Lyricol Jazz, Jazz Dance, Danças Urbanas e a própria Dança Contemporânea tem um trato de coexistência com o tempo.
Blog do Alex Fraga - O balé sempre teve espaço no Brasil - e jogou luz para muitos talentos. Como vê a dança no Brasil hoje? Há investimentos para bons trabalhos e boa formação?
Neide Garrido - Falando da dança como um todo: arte, cultura e educação. Temos sequentemente altos e baixos. A nossa força, desejo é querer é maior que tudo para brigarmos como a instabilidade. Nesta trajetória de quase cinco décadas, tive cinco anos radiosos como diretora de uma Cia de Dança profissional no Estado de Mato Grosso do Sul. Entre elenco de bailarinos e equipe técnica éramos 50 integrantes. Todos recebiam salários justos e eram com dignidade em tour que realizamos pelo Brasil. Tínhamos apoio federal e investimentos privados. Vivemos tempos de "merecimento"! E assim sucessivamente várias Cias. brasileiras. Foram bons tempos! Até os anos 2005 mais ou menos. Hoje não está difícil, está impossível, não conseguimos sair do lugar. Os artistas da dança não conseguem se profissionalizar. Hoje somos produtores, pesquisadores, criadores, professores, estudantes da dança...todos juntos misturados! Que venha uma gestão da Cultura em 2023 para o nosso MS que alivie nosso viver e assegure nossa continuidade. Talentos temos de sobra!
Blog do Alex Fraga - Fale um pouco do Prêmio Onça Pintada que chega em sua oitava edição. Como surgiu a ideia ?
Neide Garrido - O Prêmio Onça Pintada da Dança é um dos meus tesouros! Idealizado em 2012 coroa sua 8° Edição! Já provou a que veio: Oportunizar a Dança de todos para todos, em todas suas vertentes,origens e estilos. Abre as cortinas de Campo Grande Mato Grosso do Sul para todo Brasil, abraça nossas fronteiras! Sua marca é o desafio das potencialidades dos artistas da Ddança! Amo muito um escrito de Fernando Pessoa que me representa e me comove uma vida inteira: " Eu tenho uma espécie de dever, dever de sonhar, de sonhar sempre, pois sendo mais que um expectador de mim mesmo,eu tenho que ter o melhor espetáculo que posso. E assim,me construo a ouro e sedas,em salas supostas,invento palco, cenário para viver o meu sonho entre luzes brandas e músicas invisíveis."
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