A entrevista no Blog do Alex Fraga é com Maria Adélia Menegazzo - Curadora de Feira Literária de Bonito (FLIB) desde 2015 e que esse ano será de 5 a 10 deste mês. Comenta sobre a luta no mercado literário, propostas e principalmente sobre a feira que já realidade na cidade de Bonito (MS). Maria Adélia é licenciada em Letras – Português-Francês, pela Unesp de Araraquara; Doutora em Teoria Literária e Literatura Comparada pela Unesp de Assis, com pós-doutorado no Grupo de Estudos e Pesquisa “Arte&Fotografia”, do Departamento de Artes Plásticas da ECA/USP. Professora aposentada da UFMS, onde lecionou Teoria Literária no curso de Letras e História da Arte nos Cursos de Letras, de Artes Visuais e de Arquitetura (1981-2011). Autora de livros e de artigos em coletâneas e periódicos das áreas de Letras e de Artes. Professora nos cursos de Pós-graduação da área de Letras da UFMS, onde lecionou: Teorias da Narrativa; Poéticas contemporâneas – relações interartes, entre outras disciplinas. É membro da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras, da Associação Brasileira de Críticos de Arte.
Blog do Alex Fraga - Como ocorreu a ideia da FLIB? Como tudo começou? Quais foram as grandes dificuldades enfrentadas para que a feira chegasse nesse nível de excelência...
Maria Adélia Menegazzo - A ideia de realização da FLIB veio da produtora do Carlos Porto, em 2015. A Marlei Sigrist me convidou para integrar o grupo como curadora, por causa da minha formação. A prefeitura de Bonito recebeu o projeto com muito entusiasmo e faz parte dele até hoje. As primeiras edições foram um aprendizado, porque embora eu tivesse certezas, digamos, literárias, eu pouco sabia sobre produzir um evento. Precisei compreender o funcionamento para que a minha função fosse exercida da melhor forma possível. A maior dificuldade desse começo foi o patrocínio, porque o trabalho de uma feira literária, onde os objetos de troca são a literatura, o leitor, o livro e o autor, nem sempre é compreendido de um ponto de vista econômico. As pessoas não têm noção da quantidade de profissionais envolvidos para se chegar ao momento da execução. Assim como não percebem que o êxito é o processo de formação do leitor e do autor. Hoje, as coisas melhoraram muito, mas ainda precisamos de mais apoio, ainda que a FLIB seja a maior Feira Literária de MS.
Blog do Alex Fraga - Essa é a sétima Feira Literária de Bonito: Literatura e Natureza. Por que esse eixo principal? Como será a característica esse ano?
Maria Adélia Menegazzo - Já de algum tempo vinha pensando em tratar a questão da natureza na literatura em função dos 100 anos da Semana de Arte Moderna de 1922. A sétima FLIB era para ter sido realizada no ano passado. Então, estava lendo o livro do líder indígena Ailton Krenak, “Ideias para adiar o fim do mundo”, onde ele afirma que pregar o fim do mundo é uma maneira de nos fazerem desistir de nossos sonhos. Para adiar o fim do mundo precisamos contar mais uma história. Essa ideia também esta contida nas “Histórias das 1001 noites”. São maneiras de pensar nossa eternidade – formar leitores, formar contadores de histórias e sempre poder contar mais uma, para não desaparecermos.
Blog do Alex Fraga - Gostaria que falasse das mesas, oficinas, lançamentos e discussões na FLIB 2023...
Maria Adélia Menegazzo - Vamos ter debates com escritores e escritoras voltadas para o tema da Feira, mostrando como a natureza está configurada em suas obras e qual sua importância para além de simples cenário. Vamos ter, ainda, algumas mesas de discussão com grupos específicos, como mulheres negras, coletivo de poetas, instituições estaduais e municipais ligadas ao meio ambiente e com jovens pesquisadoras. Duas palestras sobre elementos da cultura popular, uma delas com a Marlei Sigrist. Serão oferecidas sete oficinas de formação e de criação. Oficinas para professores e para o público em geral, sempre voltadas para a relação literatura e natureza. Oficinas de poemas em formas variadas, de contos, de rap, de fábulas. Os lançamentos de livros serão feitos após as sessões Dedo de Prosa, um espaço já bastante conhecido dos autores, bem como do público que frequenta a Feira. Neste ano, temos aproximadamente 40 escritores e escritoras de Mato Grosso do Sul e 5 autores e autoras de outros estados.
Blog do Alex Fraga - Como enxerga a feira hoje, crescida, chegando a sua sétima edição...
Maria Adélia Menegazzo - Acho que a FLIB chegou para ficar definitivamente. Um dos motivos está no fato de que existe um processo de formação de leitores em curso, envolvendo as escolas municipais de Bonito, as urbanas e as rurais. Este ano, propusemos um concurso de redação para as escolas municipais e o resultado será a premiação dos autores e a publicação dos textos nos “Cadernos da FLIB”. A participação das escolas tem sido determinante quando pensamos a programação como um todo. A oportunidade de encontros com escritoras e escritores contemporâneos, locais e nacionais, torna a literatura algo muito concreto para os estudantes e para a população. Bonito, além do reconhecimento por meio do ecoturismo, também está sendo reconhecida pela “ecologia dos saberes”, integrando a literatura como uma de suas formas de sustentabilidade. Além disso, dá ao público a oportunidade de acesso ao livro, com a presença de editoras e livrarias. É mais uma experiência oferecida pela FLIB, se considerarmos que não há livrarias na cidade. A cada ano, quando a feira acaba, ela deixa como legado essa espécie de educação pela leitura da literatura.
Blog do Alex Fraga - Quais serão os principais destaques esse ano? Escritores nacionais e locais...
Maria Adélia Menegazzo - Dentre os escritores nacionais estão o poeta Caio Ribeiro, de Cuiabá, os romancistas Joca Reiners Terron, de São Paulo, Daniel Galera, de Porto Alegre, Paulliny Tort, de Brasília e a poeta slamer Mel Duarte, de São Paulo. Todos são fundamentais para a literatura brasileira contemporânea, alguns deles premiados, e que têm uma produção em curso. De Mato Grosso do Sul, alguns já bastante conhecidos como Lucilene Machado, André Luiz Alvez, Samuel Medeiros, Sylvia Cesco, James Barbosa, poetas como Tania Souza, Diana Pilatti, Gicelma Chacarosqui, Alessandra Coelho, Leila Aparecida da Silva, são muitos e muitas, de várias cidades.
Blog do Alex Fraga - Haverá uma programação paralela na FLIB, como música e teatro... Fale um pouco sobre esses eventos...
Maria Adélia Menegazzo - Sim, todos os anos temos essa programação, com música, teatro, cinema. No entanto, o foco é a literatura. Por exemplo, o teatro está voltado para o público infantil, com histórias relacionadas ao tema da feira e preparando as crianças para as outras atividades que acontecem na Praça da Liberdade, com jogos e contadores de histórias, histórias em quadrinhos. Os shows musicais, normalmente, fecham a programação do dia. Este ano, por exemplo, teremos a apresentação da poesia oral da Mel Duarte, com o espetáculo Mormaço, no palco. A Maria Alice, a Érica Espíndola, e muitos outros, apresentando as vozes da nossa música. O cinema vem representado por meio de curtas e de documentários com o tema da feira, com a curadoria da Marinete Pinheiro.
Blog do Alex Fraga - Suas considerações finais e expectativas... Feira Literária de Bonito: Literatura e Natureza. Por que esse eixo principal? Como será a característica esse ano?
Maria Adélia Menegazzo - Embora possam ocorrer contratempos, acredito que esta edição da FLIB vai superar as expectativas dos frequentadores. Falar da relação entre literatura e natureza pode soar conservador, levar a pensar em naturalismo e realismo, mas não é isso que estamos buscando. Queremos, realmente, que os leitores passem a refletir sobre sua relação com o meio ambiente, com o respeito à natureza e ao ser humano. Mas a 7ª. FLIB vai também investir no seu papel de afirmar o direito à literatura, à democratização do livro, a necessidade de políticas públicas para criação e manutenção de bibliotecas, pontos e salas de leitura nas pequenas cidades. Além disso, não vai chover e o frio será pouco, o que é um bom prenúncio.
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