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Entrevista - Luciana Fisher: " A música é um remédio para a alma!".

Foto do escritor: Alex FragaAlex Fraga

A entrevista de quarta-feira no Blog do Alex Fraga é com a cantora, compositora e musicista Luciana Fisher. Uma das principais vozes do Mato Grosso do Sul, ela relata sobre seu trabalho musical em vários estilos que vão do lírico, erudito até a música popular brasileira.



Blog do Alex Fraga - É uma cantora e musicista eclética que vai do lírico a música popular brasileira. Falando em voz, que é seu grande instrumento, poderia traduzir como é pra você o uso desse seu instrumento vocal.

Luciana Fisher -A voz é um instrumento maravilhoso, muito rico, e pode ser trabalhada de diversas maneiras, de acordo com os vários estilos musicais. Tanto que um mesmo cantor pode cantar vários estilos de música, alterando a estética, ou poética (como alguns gostam de dizer). Eu, particularmente, sempre gostei de experimentar e de interpretar canções em estilos bem variados. Cresci numa casa onde todo mundo cantava. A música era algo admirável e sempre proporcionava momentos muito agradáveis de convivência. A gente ouvia boa música (MPB, bossa, samba, música erudita etc.) e esse repertório musical rico, com o qual fui educada, com certeza deixou marcas e muitas influências no meu estilo de cantar. Sempre gostei muito de estudar e acabei fazendo a faculdade de música, em São Paulo, onde aprimorei os estudos de canto lírico, que é um universo riquíssimo e que exige muita dedicação. Há uns dois anos, comecei a fazer aula de canto popular com Felipe Abreu, o que foi um “up” no meu canto popular, pois desenvolvi outras maneiras de cantar os agudos, de forma mais natural. Não sei viver sem o canto, pois é umas das maneiras como expresso melhor meus sentimentos, minhas ideias, minhas verdades. A música é um remédio para a alma. Blog do Alex Fraga - Começou cedo na música e estudou muito para chegar neste patamar, mas qual a dificuldade ainda de se lançar nacionalmente? Acredita que não exista apoio necessário por parte dos órgãos culturais no MS.

Luciana Fisher - Acho que uma das coisas mais difíceis, atualmente, é ficar famoso fazendo música boa, de qualidade. Existe uma lógica de mercado muito voltada para o entretenimento e a arte acaba ficando em último plano. Aos 29 anos, fui morar em São Paulo para estudar música, com aquele sonho de conseguir alguma projeção, de conseguir viver da música. Mas as coisas não são tão simples e em São Paulo a concorrência é muito maior. Outra dificuldade foi o fato de eu ser servidora pública e de não ter tempo disponível para me dedicar exclusivamente à música. Então, minha condição para continuar cantando era fazer as duas coisas paralelamente. As políticas culturais do MS também são muito restritas e os editais ocorrem poucas vezes por ano, para uma demanda muito grande de artistas que necessitam desse apoio. Os métodos ainda são arcaicos e muita coisa precisa ser melhorada, para que possa ser justa com toda a classe artística. E temos muitos artistas bons e talentosos no nosso Estado, que poderiam estar no mesmo patamar dos grandes artistas nacionais. Blog do Alex Fraga - É uma das raras mulheres que compõem em Mato Grosso do Sul. Será que o artista no Estado tem ainda receio de mostrar seu trabalho autoral ou está preocupado em cantar e tocar apenas canções conhecidas do público.

Luciana Fisher - Conheço algumas compositoras de MS e acho que a mulher está conseguindo aos poucos encontrar seu lugar nas estruturas sociais, com o empoderamento feminino, com a inclusão social. Isso ocorre, principalmente, com a mulher negra que está com tudo neste século XXI, mostrando seu potencial criativo e sua inteligência para ocupar lugares antes só preenchidos por homens. E precisamos muito disso, de sermos representadas com força. Estou procurando fazer minha parte, principalmente nas minhas composições. Em meu último álbum musical, Sou Natureza, gravei algumas músicas que fiz em homenagem à mulher, como Preamar, Vento de Partir, Abya Yala (que também fala sobre o pensamento decolonial). Acredito que a maior dificuldade, no tocante ao trabalho de compositor, é todo o investimento necessário para gravar e divulgar as músicas. As rádios e TV locais também poderiam ajudar mais na divulgação, porque nossos trabalhos acabam ficando esquecidos e desconhecidos do público. Enfim, não basta apenas compor, pois temos que gravar, divulgar, tocar, estar presentes nas redes sociais. Não é só música, é música + business. E também o que conta muito atualmente é o número de seguidores em redes sociais e plataformas de streaming, sendo mais valorizado até do que o próprio talento do artista. Blog do Alex Fraga - Cantou já em bares na cidade e parou por que? Acredita que é algo muito cansativo e que normalmente as pessoas que estão nesses locais não estão nem aí para ouvir claramente o trabalho do artista.

Luciana Fisher - Eu sempre gostei de cantar em bares. Acho que o bar é uma escola, é onde o artista aprende ritmo de trabalho, a tocar com outros músicos, a lidar com plateia, a ampliar repertório. Acho que foi muito importante para mim essa experiência de bar. Nos últimos anos, me dediquei ao doutorado em artes, que defendi no ano passado, e à família que constituí com meu marido Renato, que também toca comigo, e minhas duas filhas, Helena e Clara (11 e 8 anos), mas nunca descartei a possibilidade de voltar a cantar em bares, o que faria com o maior prazer. [ Blog do Alex Fraga - O acha da atuação dos órgãos culturais em Mato Grosso do Sul. É a favor dessas seleções em editais de concorrência. Acredita ou não que é uma seleção um tanto ingrata, já que normalmente não dá espaço para novos nomes. No final a reclamação é a de sempre, que a lista praticamente é dos mesmos artistas.

Luciana Fisher - Acho os editais muito importantes sim, pois são oportunidades para o artista desenvolver projetos mais ousados e elaborados, que requerem um investimento maior. A arte e, principalmente, a cultura regional, deveriam ser muito mais valorizadas em nosso Estado, que é tão rico culturalmente, com muito mais investimento por parte dos governantes. Nossa localização privilegiada, de fronteira, nos proporcionou uma riqueza e diversidade cultural ímpar e, infelizmente, estão ficando apagadas. Estou participando da coordenação do Colegiado de Música de MS, que está sendo formalizado, e pretendo contribuir para que os editais sejam mais justos e possam favorecer todos, inclusive os novos artistas. Blog do Alex Fraga - Trabalhou com grandes artistas, entre eles o saudoso Lucio Val. Como foi essa experiência. Outra coisa: tem algum trabalho autoral novo em pauta?

Luciana Fisher - Sim, fiz alguns trabalhos com o Lúcio Val e tenho muitas saudades. Além de um músico incrível, era um amigo, uma pessoa maravilhosa. Acho que minhas primeiras gravações foram feitas com ele. Tenho trabalhado em dois projetos, ambos autorais, sendo um de música infantil e outro de música regional. Além disso, estou compondo em parceria com o pianista Leandro Braga, do Rio de Janeiro. Já gravamos um single, de nome Gratidão (música dele e letra minha), que vai ser lançado no dia 20/07/2022 nas plataformas, e fiz algumas outras letras para ele, umas cinco músicas mais ou menos, que vamos produzir mais pra frente, o que está sendo também uma experiência incrível, de muito aprendizado. Blog do Alex Fraga - Por fim, como cantora de uma voz inconfundível. Poderia citar algumas cantoras do Mato Grosso do Sul que gosta, acha que tem um trabalho bom, de primeira linha.

Luciana Fisher - Conheço várias cantoras maravilhosas e peço perdão se esquecer de alguma aqui, mas vou citar Maria Claudia, que considero uma das melhores, assim como Érika Espíndola, Maria Alice, Melissa Azevedo, Giani Torres, Marta Cel, Simone Ávila, Ju Souc. Conheci a Jool Azul também, que é um talento tanto no popular quanto no erudito. Uma cantora daqui, que está fazendo carreira internacional, é a Thamires Tannous, com um trabalho muito bonito e diferenciado. É muito bom saber que temos uma classe de cantoras que estão fazendo a história do nosso Estado, deixando suas marcas.

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