Entrevista - Lu Bigatão: "Ninguém faz teatro sozinho!"
- Alex Fraga
- 14 de dez. de 2022
- 4 min de leitura
Ela é diretora de teatro, cinema, atriz, jornalista e produtora. Um dos grandes nomes das artes do Mato Grosso do Sul. Luciene Bigatão, mais conhecida como Lú Bigatão, em entrevista ao Blog do Alex Fraga fala sobre suas andanças pelas artes no Estado, projetos em andamento e também futuros. Uma das fundadoras do Teatral Grupo de Risco, um dos principais nas artes cênicas e que vem desenvolvendo vários trabalhos todos os anos. Seus filmes e produções com sua irmã Rosiney e as dificuldades no setor de teatro,cinema e artes em geral.

Blog do Alex Fraga - Lu, conte um pouco de sua trajetória como atriz e diretora de teatro e cinema... Como iniciou tudo...
Lu Bigatão - Sempre fico receosa de escrever sobre mim. Creio que interessa mais é a obra, do que o realizador. Mas vamos exercitar... Venho da área rural - nasci em sítio e sempre morei no interior, em cidades pequenas. Tínhamos acesso a pouca coisa. O circo, as festas religiosas, o resto a gente tinha que inventar. A escola era o espaço para aprendizados e descobertas. Creio que a maioria das pessoas foi descobrindo seus talentos na sala de aula. Sempre que podia, lá estava eu, criando uma cena. Não importava a matéria, a dramatização era sempre utilizada para apresentar algum tema. No quarto ano primário ganhei meu primeiro prêmio de melhor atriz, prova que o teatro é minha vocação. Depois de adulta, tentei fugir da carreira, iniciei diversos cursos universitários - Direito, Publicidade, Ciências Sociais... No fim, me rendi ao amor pelo teatro e fui cursar EAD/USP- Escolas de Artes Dramáticas na Universidade de São Paulo.
Em 1988 retornei para Campo Grande, ajudei a formar o Teatral Grupo de Risco e lá se vão mais de 30 anos montando espetáculos. Creio que tem mais de operário do que de artista numa carreira teatral. São processos que levam tempo, exigem entrega, dedicação. Só quem gosta muito permanece. Junto com o teatro, sempre atuei como jornalista. Entrei na primeira turma da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), me formei e trabalhei por 30 anos como repórter em diversos canais de televisão. Na TV Educativa fiquei 23 anos. Nesse tempo, descobri outra paixão - o documentário. Fiz diversos filmes nessa caminhada - Caá - a força da erva, Folia dos Malaquias, Fujona, Campo Grande das Araras, Van Filosofia... sempre com minha irmã Rosiney Bigatão. Estamos sempre inventando histórias.
Blog do Alex Fraga - Qual sua visão sobre a produção teatral em Mato Grosso do Sul? Existe união entre os grupos em Campo Grande ou ainda cada um é por si? Por que os grupos do interior nunca são valorizados como os da Capital, principalmente em eventos governamentais...
Lu Bigatão - O teatro é um dos segmentos artísticos mais unidos em Mato Grosso do Sul. A mobilização da classe, proporcionou diversas conquistas, como o Fomteatro, um edital especifico para produção e circulação de espetáculos. Outro exemplo de união é o Boca de Cena, uma mostra das produções do Estado, que em 2022 foi organizado pela categoria, através dos Colegiados de Teatro e Circo. Foram 21 apresentações na Praça Ari Coelho. Deu um trabalho danado, mas foi lindo. Trabalhar em equipe, faz parte do oficio. Ninguém faz teatro sozinho. É um exercício diário a convivência em grupo. Mas é evidente que não é tarefa fácil. Vivemos numa sociedade competitiva, egocêntrica, e trabalhar junto exige paciência e perseverança. Alguns grupos do interior conseguem manter as atividades, mas muitos acabam desistindo. É preciso muita criatividade e persistência para manter uma companhia em atividade. Dourados tem se destacado ultimamente, devido ao curso de Artes Cênicas da UFGD - Universidade Federal da Grande Dourados.

Blog do Alex Fraga - Você é atriz, diretora e produtora teatral. Como diretora precisa escolher os atores que participarão na peça, como acontece essa escolha? Se vários candidatos são bons para representar um personagem, como você decide qual será o melhor? Aqui tem esse número suficiente para fazer essa escolha ?
Lu Bigatão - A maioria das companhias tem seu elenco fixo. Um ou outro ator vai surgindo na caminhada, mas a maioria está junto faz tampo. Dificilmente se faz teste de elenco. Isso acontece muito na propaganda e no cinema. No teatro, os novos atores vão surgindo nos cursos de teatro e se integrando ao grupo. Tem atores que trabalham em mais de um grupo. Tem uma troca entre as companhias, o que é muito legal. Mais uma prova da convivência pacifica entre os profissionais.
Blog do Alex Fraga - Você dirigiu um dos filmes que acho mais interessantes que surgiram nos últimos tempos no MS, "Fujona - Em busca da liberdade". Levou nas escolas e fez sua parte. Acha que faltou o que para se mais expandido, principalmente nacionalmente, principalmente porque participou do projeto Cine Rodas. Qual é a dificuldade?
Lu Bigatão - Os filmes que fizemos, eu e Rô Bigatão, acabaram ficando só no Estado. Acho que falta empenho de nossa parte. Focamos mais na produção e na exibição dentro de Mato Grosso do Sul. Tem profissionais que almejam os festivais e conseguem percorrer o mundo. Quem sabe um dia a gente rompe essa barreira.
Blog do Alex Fraga - O que podemos esperar da diretora, atriz e produtora Lu Bigatão para 2023
Lu Bigatão - Em 2023 vamos lançar a série Van Filosofia. São 5 episódios sobre os grandes temas da humanidade e foi produzida através do edital da Ancine. Um trabalho muito especial que se propõe a popularizar a filosofia e vai ser exibido nas tvs públicas. Uma equipe enorme que coordenei junto com Rosiney Bigatão, Carlos Diehl e Nadja Mitidiero. Estamos começando um trabalho novo que vamos filmar em 2023 - Pé de histórias- árvores que guardam nossas memórias. Um projeto lindo, que tem apoio do FIC- Fundo de Investimento Cultural e que vai percorrer diversos municípios, em cada um falando como uma espécie da flora ajudou na construção de sua história e identidade. Em Ponta Porã abordaremos como a erva-mate ajudou na formação de diversas cidades da fronteira com o Paraguai, influenciando na cultura, no idioma, na definição geográfica. Em Bonito, a guavira está presente na memória da população, tem gosto de infância e está presente na gastronomia. O pé de cedro em Coxim, é um símbolo histórico e cultural e contribuiu para a divulgação da musica sertaneja. E assim por diante. Vamos unir diversas paixões numa só- as árvores, o cinema, o resgate oral e as belezas de Mato Grosso do Sul.
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