Ele é presidente da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras, escritor, poeta, publitário, jornalista e empresário. A entrevista desta quarta-feira no Blog do Alex Fraga é com Henrique de Medeiros, que tem uma grande participação na vida cultural do Estado. Aqui ele falar sobre a atual situação do setor literário no Mato Grosso do Sul, ensino nas escolas, Manoel de Barros, sobra a ASL e suas mudanças entre outros assuntos culturais.
Blog do Alex Fraga - Como enxerga hoje o mercado literário no Estado ? Por que os escritores e poetas sul-mato-grossenses não têm espaço nas escolas e universidades no Estado ?
Henrique de Mendeiros - No ensino em nosso Estado é sempre preciso perguntar, divulgar, defender e tentar influenciar por abertura de espaço para escritores que produzem em Mato Grosso do Sul. Acredito que a falta da nossa literatura em nosso próprio ensino venha da formação até mesmo de nossos professores. Quero entender que o corpo docente que se forma passa à vida adulta sem ter iniciativa ou ser direcionado a procurar ler, entender e estudar nossos autores. Como ele já vem com essa “distância”, não se pode esperar por outra coisa. E não há incentivo ou iniciativa por parte das diretorias das escolas em se colocar nas grades escolares o estudo desses autores, com raríssimas exceções. O que os autores têm escrito ao longo da história da literatura estadual deveria representar muito para a autoestima e o conhecimento da população sul-mato-grossense. Os seus textos, os seus pensamentos abordando temas regionais e outros estilos, representam também o que somos como população pensante, como região. Temos um mercado que hoje produz muito. Possuímos excelentes escritores e vejo muito incentivo interpessoal entre eles para que escrevam, produzam. O espaço no ensino, entretanto, depende muito das decisões dos grupos diretores das escolas particulares e das decisões políticas do ensino público. Já em relação ao ensino superior, tenho observado maior abertura de espaço para o estudo de nossos autores em seus estudos acadêmicos, defesas de teses; isso é muito importante, embora esse volume e estudo possam ser ampliados ainda mais.
Blog do Alex Fraga - A Academia Sul-Mato-Grossense de Letras tem mudado seu perfil, está mais aberta "literalmente". O que se deve a isso?
Henrique de Medeiros - As duas últimas diretorias que assumiram se comprometeram com esse compromisso. Quando assumi a presidência da ASL - Academia Sul-Mato-Grossense de Letras, durante duas gestões até o momento, nós conversamos muito entre os membros da Diretoria sobre a proposta de aproximar mais a ASL do público. Procuramos abrir ainda mais suas atividades e participar dentro do possível em aperfeiçoar suas interfaces com a população em busca da divulgação da literatura, do incentivo à leitura, da consciência da importância da educação na formação do cidadão. Isso passou também por reformulações de nosso site, de nossas mídias sociais, e a disponibilização da produção de nossos acadêmicos. Em nosso site (acletrasms.org.br), estão disponíveis gratuitamente mais de cinco mil textos em poesia e prosa em nossos Suplementos Culturais (que são publicados pelo jornal Correio do Estado ininterruptamente há quarenta anos) e cerca de cinco mil páginas de literatura em nossas Revistas da ASL. Todos, textos de nossos acadêmicos - atuais e saudosos - e sua produção sul-mato-grossense. Além disso, nossas atividades com o Chá Acadêmico, com a Roda Acadêmica e suas palestras e momentos de leitura, buscando trazer o público para encontros gratuitos em nosso auditório, entre outras atividades. A Cultura não pode ser atividade “fechada”. O pensamento da ASL é procurar direcionar a Cultura para que ela se aproxime do cidadão.
Blog do Alex Fraga - É possível ensinar alguém a ler livros?
Henrique de Mendeiros - Realmente, depende de cada um. Acredito que dois fatores influenciam no “ensino” da leitura: a família e a escola. Costumo dizer que aqueles que leem saem à frente na disputa da vida. É preciso formar a consciência de que o conhecimento traz evolução pessoal e profissional. Permite que você entenda melhor o próximo e o mundo. Que você se compreenda melhor. Que você se aperfeiçoe. Que tenha melhor crítica e autocrítica. Que tenha a possibilidade de melhor contribuir com a sociedade.
Blog do Alex Fraga - Dos livros de poema que escreveu , considero "Azur Macadam" uma viagem poética... Acredita que com o tempo as letras ficam amadurecidas fielmente no pensamento ?
Henrique de Medeiros - Com o tempo a gente vai conhecendo melhor o mundo e entendendo o quanto é uma arte tanto o viver como saber viver. O pensamento precisa buscar amadurecer. E a poesia e a prosa precisam atravessar qualquer tempo, a qualquer tempo. O importante é que não apenas todos nós busquemos melhorar. É preciso que o mundo também melhore com a nossa melhora. Hoje, é preciso que a gente coloque mais poesia no mundo. Espero que as minhas letras também possam evoluir assim.
Blog do Alex Fraga - Qual obra de um autor sul-mato-grossense que indicaria para o ensino médio ? Por que ?
Henrique de Medeiros - Não há como evitar Manoel de Barros. Ele é básico, fundamental. Sua obra tem temática e universo únicos, engrandece a literatura e a nossa região. Passou sua vida aqui, produziu aqui; há que se considerá-lo um sul-mato-grossense. A qualidade literária de seu trabalho poético ultrapassa fronteiras e, portanto, precisa ser estudada em nossas fronteiras. Além de Manoel de Barros, temos grandes escritores. Ele, muitas vezes, “esconde” esses grandes autores. Eu mesmo estou aqui citando Manoel, mas temos que abrir os estudos e as indicações para o ensino em MS a inúmeros outros grandes autores que aqui produzem.
Blog do Alex Fraga - Existe por parte dos órgãos culturais pouca valorização na literatura... A que se deve isso ? A música "reina" e a literatura sempre é colocada em último plano.. Por que ? O que você sugeriria para mudar essa visão governamental sobre as artes?
Henrique de Medeiros - A palavra está antes de qualquer outra coisa. A palavra está atrás até do cinema mudo. É preciso um roteiro, é preciso a palavra para que o cinema seja mudo. A palavra está na música, enriquecendo desde as partituras até as canções populares. A palavra está na explicação do sentimento das artes plásticas. As belas-artes existem pela palavra. A Literatura é uma arte maior. É a arte do pensamento, do expressar sentimentos que levam a viagens intermináveis pela imaginação. A ASL já buscou várias reuniões junto aos órgãos públicos tentando expor a necessidade de valorizar a literatura como transformadora da sociedade. Acho que o que é preciso para mudar essa visão governamental sobre as artes é a mudança da qualidade dos nossos governantes, ou pelo menos óculos que os permitam enxergar melhor. Não conseguem entender o poder transformador da Cultura, talvez porque a eles falte essa Cultura.
Kommentare