Prestes a completar 70 anos, um dos principais artistas do Mato Grosso do Sul, o músico, cantor e compositor Guilherme Rondon, em entrevista ao Blog do Alex Fraga, fala sobre sua nova fase na vida e projetos futuros. Elogiado por grandes nomes da música brasileira, ele deixa o Pantanal para agora dedicar-se somente com a sua arte. No dia 21 faz um show no BONA, em São Paulo e no próximo ano deverá se apresentar em Campo Grande.
Blog do Alex Fraga - Você ficou dois anos nesse período de pandemia no Pantanal. Como foi essa experiência de ficar tanto tempo longe dos palcos. Te fez refletir em alguns conceitos?
Guilherme Rondon - Na verdade Alex, esses dois anos da pandemia, fiquei no Pantanal, mas não mudou muito a minha realidade como músico, isso porque já vivia essa experiência de ficar por lá a maior parte do meu tempo nesses últimos 26 anos. Então não mudou muito. Estava longe dos palcos e sempre como gerente de uma pousada. Assim você tem que optar teu tempo e vai tudo pra isso. O pouco que sobra, dá pra fazer música. Aproveitei a pandemia para produzir. Lancei cinco singles: um com a Zélia Duncan, outro com o Gabriel Sater e três sozinho, gravando com músicos de São Paulo, Rio de Janeiro e Campo Grande, tudo pela internet. Os trabalhos ficaram muito bonitos. O que me fez refletir mesmo nesses dois anos, é que cheguei com a certeza que esse meu ciclo de ficar no Pantanal estava no fim. De ficar tomando conta de uma pousada, ter uma responsabilidade grande, muito estresse. Resolvi parar com isso. Me aposentar! Vou fazer 70 anos e resolvi daqui para frente me dedicar somente à música. O que me fez refletir muito foi isso. Veio essa certeza que precisava parar e dedicar à minha arte, minha música, algo que está latente dentro que mim. Tem muita coisa represada para ser mostrada. Adoro palco, lugar que me sinto muito bem. Então estarei de volta para música a partir de Setembro e muito feliz.
Blog do Alex Fraga - Você é um artista que tem reconhecimento nos grandes centros. É elogiado por nomes como Nana Caymmi, Zélia Duncan, Tavinho Moura, Ivan Lins, Leila Pinheiro, Sérgio Reis, Almir Sater, Tetê e tantos outros. Por que no Mato Grosso do Sul não há essa valorização? É raro você se apresentar por aqui...Por que isso?
Guilherme Rondon - Eu tenho bastante prestígio entre os grandes artistas da música brasileira, isso não resta dúvida. Agora a questão de não ser reconhecido, é um pouco relativo. Hoje sou reconhecido. A novela Pantanal tem dado um destaque mais legal, a internet tem feito a gente aparecer mais. Mas, Campo Grande desde que ela virou Capital, acabou a adoração do público pelos artistas locais. Eu sou da época do "Prata da Casa", onde os shows lotavam. O "Estranhas Conscidências" lotado. Fazíamos shows no Sírio Libanês, lotado. Então depois disso, foi acabando. Hoje mudou o gosto da população. Somos a Capital do "sertanejo universitário", e esses artistas que fazem a moderna, e que fizeram a mordena música sul-mato-grossense, estão meio esquecidos. Hoje temos um público "cult", pequeno. Então isso me faz, com todas as dificuldades de estar longe, na pousada, prefiro no pouco tempo que tenho para viajar, fazer show fora daqui de Campo Grande, uma terra onde as pessoas não valorizam muito mesmo. Aqui, meu trabalho mais contínuo é com o Chalana de Prata, que continua atuando. É uma coisa muito gostosa, pois somos amigos, Nós nos divertimos e é um esquema mais leve profissionalmente, no sentido que eu só participo...,não faço muito a produção. Fico atuando com o Chalana por aqui e meu trabalho solo vou levando para outras capitais. Mas, tenho certeza que nas comemorações dos meus 70 anos, venho fazer um show em Campo Grande. Agora tenho tempo. Vou esperar passar essa época de turbulência de eleições e pensar com calma. No ano que vem, com certeza farei um show por aqui.
Blog do Alex Fraga - Como analisa o trabalho dos órgãos culturais no Estado?. Quais são os pontos negativos e positivos.
Guilherme Rondon - Eu tenho ficado afastado de Campo Grande e não posso opinar muito sobre a atuação dos órgãos culturais. Sei que nos últimos anos tem havido muita alternância de poder, muita troca e não existe política de médio e longo prazo. O que a gente sabe é que as instalações culturais estão sucateadas e muitas reclamações nos últimos eventos. Sinto que existe uma insatisfação muito grande da classe artística com os órgãos culturais do Estado. Tenho evitado participar de editais e acho que nem estou mais com idade para isso. Mas, vejo com muita tristeza o sucateamento dos nossos espaços culturais. Por exemplo, o Teatro Aracy Balabanian, o do Paço que é da prefeitura e que poderia estar reformado. Existe um descaso muito grande com os artistas locais. Sinto que existe uma insatisfação da classe artística com os órgãos culturais muito grande e isso não deveria existir. A função dos órgãos culturais é justamente apoiar e garantir trabalho e realizações para a classe artística e isso não está sendo feito.
Blog do Alex Fraga - Agora em setembro estará comemorando seus 70 anos com um show em São Paulo no palco Bona. O que tem de novidade? Quem estará nesse show especial com você? Tem possibilidade de fazer no Estado?
Guilherme Rondon - É dia 21 de setembro estarei no Bona, uma casa de música em São Paulo. Um lugar muito legal. É pequeno, mas é maravilhoso para tocar, tanto para o artista como para o público ouvir. Sempre quis tocar lá e será a comemorção dos meus 70 anos . Na verdade, eu faço aniversário dia 15, mas o show será nessa outra data. Vou estar com uma super banda, com o Alex Mesquita no baixo, Sandro Moreno na bateria, Webster de Santos, na guitarra, que foram os músicos que participaram do meu último CD "Melhor que seja Raro". Terei como convidados, a sanfoneira Adriana Sanchez e o compositor e músico Rafael Altério, onde temos um trio em São Paulo. Lançamos um CD muito bonito e eles farão uma participação especial nesse show. Na verdade será um evento musical para os amigos, para pessoas queridas de São Paulo se encontrarem e celebrarem a vida como sobreviventes desse terremoto que passou a humanidade. Então vai ser o estarte da minha carreira musical e espero que seja em grande estilo.
Blog do Alex Fraga - Na novela Pantanal você e Paulo Simões foram citados pelo Gabriel Sater como grandes da música do Mato Grosso do Sul. Como foi pra você ouvir isso? O que está achando do repertório?
Guilherme Rondon - A novela Pantanal tem sido ótima. Ela foi gravada na minha pousada. Participei de todo o processo, desde a escolha da locação, do começo da história em dezembro de 2020. Vivemos as gravações, participações das festas... O Gabriel Sater é uma figura a parte. É um menino de ouro, um príncipe. É muito gentil e precisava existir mais Gabriel Sater. Ele divulga a gente, faz questão dentro da Globo que coloquem as coisas nossas para tocar. Valoriza muito os artistas daqui. Eu, Paulinho Simões, Geraldo Espíndola... Faz questão com isso, que apareça e que tenha uma visibilidade. O Gabriel é de ouro e essa força que ele tem dado, tem nos ajudado bastante na divulgação do nosso trabalho, do respeito pelas pessoas também. Mudou muito a aproximaçao e o olhar das pessoas sobre o nosso trabalho como músico. Gabriel Sater realmente merece todo sucesso que está fazendo, como cantor, ator, e instrumentista maravilhoso. É muito profissional e estudioso. Merece tudo e sorte. Como o Celito Espindola falou que ele está aí porque é uma pessoa que valoriza e com toda a certeza que sempre estará valorizando e divulgando o trabalho da gente aqui do Mato Grosso do Sul. É um menino de ouro. A novela tem uma carateristica interessante, pois é uma "novela da viola". Está resgatando a viola caipira. Tem o Almir, Gabriel, o Guito... e muitas músicas de viola, roda de viola... Então ela está trazendo a viola pra frente do palco e dando uma visibilidade enorme para esse instrumento maravilhoso. O repertório é feito no Rio de Janeiro. Então os diretores opinam, os produtores musicais opinam... Mas tem um departamento comecial da Globo que define no final, o que vai para o ar. Por outro lado tem muita gente que, como em toda novela, se sente injustiçada, ficou de fora, isso aquilo. Mas prefiro elogiar o conjunto todo da obra: a produção, os atores, imagens maravilhosas e a trilha sonora que está bacana. Sempre tem o Almir em cena, Gabriel, Guito... Muita música e estou gostando bastante e já triste porque está acabando. Falta um mês para acabar.
Blog do Alex Fraga - Me fale um pouco dessa amizade e parceria com Almir Sater. Nunca pensaram em fazer um show juntos?
Guilherme Rondon - Almir Sater é nosso grande guru. Eu no passado nos anos 80, 90, tocávamos bastante juntos. Tivemos várias parcerias. Temos ainda eu e ele, com Paulinho Simões. Fiz parte da banda dele por quase um ano viajando e tocando. Gravei com o Almir. Como fotógrafo fiz a capa de dois discos dele: o Terra dos Sonhos e Instrumental II. Hoje somos vizinhos de fazenda e essa minha saída do ar, para ser gerente de pousada no Pantanal nos afastou um pouco musicalmente, de participar, estar juntos. Nossos encontros musicais têm sinto muito na fazenda no Pantanal, onde é um lugar que o Almir não toca muito. Ele vai mais para descansar e pescar. Nossos encontros lá são sempre regados em muita boa conversa, pescaria, papo sobre o Pantanal, que são o refresco para a cabeça. Ele correndo da vida atribulada da cidade e eu saindo fora um pouco da minha corrida. Somos grandes parceiros, amigos. Adoro tocar com ele, principalmente os chamamés. De vez em quando a gente dá umas tocadas juntos, mas já faz algum tempo que a gente não compõe. Tem uma característica, um dos motivos principais é que o Almir é um melodista e eu também. Nossos parceiros são letristas. Então é muito difícil um melodista compor com outro. Nós fizemos por exempo a música "Corumbá, que é um clássico. Mas as outras sempre foram com o Paulinho Simões. Temos Invernadas, História Boiadeiras... Tem outras músicas que sempre fizemos em "triserias", pois nós precisamos de um letrista. Eu e o Almir somos dependentes de letristas. Ele tem as parcerias com o Renato Teixeira, Simões.... Eu tenho vários parceiros que trabalho em São Paulo, o Alexandre Lemos, ZeDu, Zelia Duncan... Hoje continuamos sempre bons amigos e vizinhos. Caminhamos juntos nessa vida. Tomara que um dia a gente volte aí com essa minha liberdade de tempo e atuação. Quem sabe a gente pode armar alguma coisa em tocar junto, fazer algumas participações no trabalho um do outro. Sou muito fã do Almir.
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