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Entrevista - Bosco: "MS tem muitas bandas e músicos maravilhosos !"

Foto do escritor: Alex FragaAlex Fraga

Atualizado: 26 de jul. de 2022

Quarta-feira é dia de entrevista no Blog do Alex Fraga. Ele é considerado uma lenda do rock no Mato Grosso do Sul. Preste a completar em outubro, 67 anos, João Bosco, mais conhecido como Bosco, está entre os melhores baterista do Centro-Oeste. Devido a pandemia "está dando um tempo em Coxim (MS). Em entrevista comenta sobre suas atividades, histórias na música e novos planos da música. Com mais de 40 anos de estrada, Bosco sempre foi um artista muito respeitado e querido entre os artistas.


Blog do Alex Fraga - Você está na estrada do rock há mais de 40 anos e é considerado por muitos, uma verdadeira lenda do rock no Estado. Como recebe esses comentários de outros artistas ?

Bosco - Alex não sei te responder como isso aconteceu. Para mim foi de forma natural, já que em relação aos bateras da minha geração, eu me encontrava muito atrasado em termos de técnicas. Eu fui parar no internato, que é um fator mais complexo ainda, pois a turma da minha geração já estava tocando. Por exemplo, o Miguelito,(eu sou um pouco mais novo), porém quando chega nessa fase tudo, vira uma coisa só. Tinha o saudoso Lincoln (Lincão) que já estava tocando muito, e os melhores bateras de Campo Grande tocavam na zona. Então você saía nas férias com os amigos à noite para ver essas feras tocarem. O meu aprendizado mesclou um pouco de tudo. Estudei no CLAM ( Centro Livre de Aprendizado Musical ), aliás todos os meus amigos e hoje professores em São Paulo estudaram lá. Meu aprendizado eu chamo de colcha de retalhos, um pouco aqui , um pouco ali, vendo o Carlinhos Batera tocar ( que aliás me deu aula também). Agora o mais engraçado disso tudo é ser chamado de lenda! Eu acho que se deve às minhas influências (iniciei vendo Ringo Starr, depois Charlie Watts, os brazucas Franklin - Fruto Proibido - Rita Lee , na batera brasileira Robertinho Silva , mas acho que marcou a turma foi a grande influência do Ian Paice e principalmente do Mr. John Bonham) .


Blog do Alex Fraga - Conta um pouco de sua história com a Euphoria, uma das primeiras bandas de rock do Estado...

Bosco - O Euphoria foi um capítulo à parte. Para iniciar o Euphoria, começa no Zutrik , que foi uma das melhores bandas de baile do Estado no qual eu me orgulho de ter tocado lá. Olhava do lado, só feras, eu me perguntava: o que é que eu estou fazendo aqui ! Esses caras têm mais de 10 anos de palco. Antônio Mário, Lúcio Val , Miguelito, Zé Pretinho (era isso mesmo, só nos últimos anos ele mudou o sobrenome para Zé Pretim). Então um dia fui visitar o Zé que morava embaixo do antigo Clube Surian. E apareceu o Antônio Mário e sugeriu: "Vocês têm alguma coisa diferente em termos de repertórios. Porque não saem e montam uma banda?". A gente gostava de ficar tirando O Terço , Rita Lee e Tutti Frutti, Luiz Melodia, Secos e Molhados etc... Então, o Mário acende a luz do Euphoria, que foi uma "bandaça". Não estou falando por mim não, estou falando pelas pessoas que fizeram parte da banda: Zé Pretinho, Zé Damião, Jane , Lázaro , Teté ( um dos maiores guitarristas de baile do Brasil). O nosso relacionamento era de primeira: Geraldo Roca, Paulinho Simões, Celito Espíndola, Alzira E, Tetê Espíndola, Carlos Rennó... Logo começamos a compor e tocar por exemplo, With Little Help From a Friends . De cara conhecemos nosso grande guru: Geraldo Espíndola. Daí já saiu ( Eu sou Euphoria) parceria do Zé Pretinho com o Geraldo Espíndola. O Celito Espíndola compôs um belíssimo rock n`roll intitulado Minha Vitrola Quebrou, muito pertinente hoje em dia, já que o vinil voltou. Qual foi a grande sacada e aventura. Todas as bandas eram fechadas com todos os clubes de Campo Grande e nós resolvemos não fechar, ficar livre para tocar e viajar pelo Estado todo. Acompanhamos vários artistas na gravação do primeiro Prata da Casa, no qual no vinil eu destaco uma ótima música de protesto do Cláudio Prates (Carne Seca) com o Almir Sater no charango. Shows com a cara pintada, referência ao Ney Matogrosso e Secos e Molhados. O nosso repertório tratava de músicas próprias e também Rita Lee, O Terço, Made in Brazil, Secos e Molhados , ou seja 70/30 nacional e internacional ...


Blog do Alex Fraga - Você e o Zé Pretinho (na época, o Zé Pretim, como era essa parceria nos shows? Havia muita discussão ou era tranquilo?


Bosco - Se tratando do Zé, sempre rolava umas tretas, mas nada que a gente não pudesse contornar, afinal todo mundo sabia que o Euphoria era uma forma da gente expressar o feeling do Zé Pretinho.

Blog do Alex Fraga - Atualmente, qual sua visão das bandas existentes no MS. Antes haviam muitas bandas que faziam o autoral e agora são poucas. Por que essa dificuldade?

Bosco - No meio ponto de vista, a gente não tinha esse caminhão de informações que tem hoje. Tinha que ser no disco de vinil e colocando o dedo em cima para entender uma virada. Também a cena de Campo Grande pegava fogo com muitos compositores de altíssimo nível, a começar pelo Geraldo Roca, Geraldo Espíndola, Carlos Colman... Teve uma influência muito grande dos Mutantes, quando tocaram no Surian e ficaram uma semana com a gente em Campo Grande. Esqueci de mencionar que tocávamos muita música do Renato Teixeira e do Almir Sater nos shows e bailes. Era sensacional. Também acho que essa turma tinha mais tempo para ouvir uma canção nova até que ela ficasse marcada. Acho que hoje já tem que ser uma música muito tocada, passada de pai para filho, até para bandas covers. Eu acho que é difícil. Eu participei e pretendo fazer vários projetos para tocar músicas de bandas e artistas que eu gosto, mas tenho certeza que as pessoas vão querer ouvir as cartas marcadas!


Blog do Alex Fraga - Sua história com o Made in Brazil como foi ? E no Alta Tensão ?


Bosco - A minha história com o Made in Brazil, começa em 1985 quando eu e o Big tivemos a ideia de chamar o Oswaldo Vecchione para produzir o primeiro disco do Alta Tensão, chamado Metamorfose. Ele nos hospedou em sua casa e ajudou a produzir o disco junto com o Calanca, da Baratos Afins. Aí eu já fiquei para fazer vários shows, que o Dimas não pode fazer e daí para a frente eu fui ficando de sub, alternando shows com o Alta Tensão e o Made. Tive a honra de fazer uns três shows com o Cornelius, primeiro vocalista da banda e do disco que ficou famoso como disco da "Banana", pois tem uma banana na capa. Depois eu acabei indo no começo dos anos 90 e fiquei até 94. Aí foi a fase blues, do disco In Blues. Aprendi muito com a banda e o Oswaldo, pois eu achava que o fato de estar tocando numa banda de heavy com dois bumbos, iria arrasar... que nada! Como ele mesmo diz numa frase de uma música , "vocês pensam que tocar rock é mole? Mais vou logo dizendo que não é mole não" . Depois disso ainda toquei vários shows como " sub " e participei de todos os aniversários da banda. No Alta Tensão eu entrei a convite do Big, para o lugar do Marcão. O som era bem diferente, mais rock , com uma pitada pop dos anos 80. Então eu fui para o Rock in Rio e voltei com a ideia de fazer um som mais pesado. Então entrou o Ayalla na nossa vida e tudo mudou. O primeiro disco praticamente eu e o Big fizemos as composições. Quase todas e acabou entrando como a última música" Submundo da Carne" que tinha uma pegada meio " Motorhead e que acabou abrindo o disco, música do Edinho, Ayalla e Big. Depois fomos para o Paraguay, onde gravamos graças ao Ayalla, o "Portal do Inferno ". Essa história vou resumir... teria que escrever um livro sobre esse capítulo. Fomos para ficar um mês para gravar e acabamos ficando um ano. Tocamos em estádios do Olímpia, do Cerro Portenho e muitos lugares por lá. Depois na volta, o Big montou a Big Company e eu resolvi tocar o barco, com disco "Nigéria", que eu gosto muito, gravado no Rio de Janeiro, em Valença, com o técnico que trabalhou com o Whitesnake. Tivemos a honra de fazer fazer uma releitura de "Fireball" e além de ser aprovada pelo Ian Gillan. Tive a honra de conhece-lo pessoalmente e receber uma dedicatória que está no encarte do disco !



Blog do Alex Fraga - E o Bando do Velho Jack ?


Bosco - O Bando do Velho Jack, uma história cheia de viagens maravilhosas e tragédia. Eu vim de São Paulo com uma ideia de montar uma banda de classic rock, para tocar bandas dos anos 70 e afins. Tinha combinado com o Ayalla que ele desse um toque para o Xande, guitarrista do Harppia, uma lenda do heavy paulistano dos anos 80 . Assim como o Alta Tensão, inclusive fizemos muitos shows juntos em SP, na capital. Acontece que quando eu cheguei em Campo Grande para visitar a minha família, encontrei o Alex Batata, também tinha chegado de SP. Tinha tocado com os Fenícios , junto com o Rodrigo Teixeira e outros feras como o Serginho Facci que tinha feito a abertura de um show do Alta Tensão, no lançamento do disco Metamorfose no começo no Horto Florestal. Então eu falei para o Alex Batata do projeto e como ele tinha recém chegado em Campo Grande, me disse: "eu sou o vocalista dessa banda". Então decidimos montar o projeto em Campo Grande. Fomos atrás de um guitarrista e um baixista com uma pegada antiga, "setentista". Testamos vários, mas não deu química. Então passamos em frente do Farol, no domingo e estava tocando a Blues Band. Quando eu vi o Marquinhos e o Fábio Brum tocando, falei para o Alex, são esses caras que podem fazer parte do nosso projeto! Acabei tocando na Blues Band no final e a banda se desfez, originando a Bêbados Habilidosos e o Bando do Velho Jack. Gravamos umas músicas pela TV Cultura , graças ao Celito Espíndola, Miska e todos que deram uma força nesse momento, Fizemos vários shows, até que o Fabinho foi para os Estados Unidos e chamamos o Fábio Terra. Tocamos alguns show e aconteceu a perda do nosso querido Alex Batata, de uma forma que a gente não se conforma até hoje. Demos um tempo e retornamos com um show no Surian. Depois do show o Fábio Terra falou que tínhamos que arrumar um vocalista. Então veio o Rodrigo Tozzette e o Gilson para os teclados e gravamos o primeiro disco do Bando "Procurado" que tem o maior hit da banda, "Palavras Erradas". Depois saiu o Gilson entrando o "Fralda" e gravamos" Como ser Feliz Ganhando Pouco". O Mika que trabalha com o Almir Sater, produziu "O Procurado" e "Como Ser Feliz Ganhando Pouco". Viajamos, curtimos muito, e aí gravamos "O Bicho do Mato". Retornamos a fazer shows importantes como festivais, feiras do rock em São Paulo, tocamos muito no Delta Blues Bar em Campinas. Uma pessoa especial passou a fazer parte da turma o grande Carlão", motorista da Van e percussionista. Então eu tive que me ausentar por um tempo, por problemas de saúde na família. Nesse período produzi e toquei com o "Batata Tonta" nos pubs de Campo Grande. Aí quando o Marquinhos me chamou para voltar, fizemos vários shows bem legais, e veio a pandemia e mais algumas coisas pessoais de família, que por enquanto estou em Coxim, esperando abaixar a poeira !


Blog do Alex Fraga - Tem algum projeto para esse ano pós pandemia?


Bosco - Meu maior projeto mesmo. pós pandemia é voltar a tocar!

Blog do Alex Fraga - Cite algumas bandas daqui do Mato Grosso do Sul que acha que vale a pensa ouvir e também bateristas de qualidade que acredita nessa nova turma?


Bosco - Você sabe melhor que eu que a gente tem muitos talentos e músicos maravilhosos. Eu gosto muito da música produzida no nosso Estado. Como tem muito talento e muitos músicos bons, prefiro desejar boa sorte a todos. Tem muita banda e muitos músicos maravilhosos. Boa vibrações a todos, pois eu bem sei que é uma dificuldade ser músico e viver de música nesse País!. A cena daqui poderia ser como a de Minas " O Clube da Esquina " acho uma certa semelhança

 
 
 

2 Comments

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Maria de Lourdes da Costa
Maria de Lourdes da Costa
Jul 23, 2022

Para

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isaacramos3
isaacramos3
Jul 21, 2022

Um grande baterista, Bosco, que conheci quando estudávamos na MACE, e o EUPHORIA fez um show na quadra da MACE. Gravei aquele memorável show em fita cassete. Por muitos anos guardei essa raridade de fita. Até que um dia a passei para Bosco. Na adolescência, acompanhei a banda por inúmeros show, juntamente com meus amigos punks. Em homenagem à banda, fundamos o HIPOCRISIA. Isso já é outra estória (risos).

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