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Entrevista - Américo Calheiros: "Cultura é tudo e em tudo está! "

Foto do escritor: Alex FragaAlex Fraga

Professor, poeta, escritor, membro da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras e teatrólogo, Américo Calheiros, um dos principais nomes da Cultura do Mato Grosso do Sul é o entrevistado da quarta-feira no Blog do Alex Fraga. Ele comenta sobre a importância o trabalho teatral nas escolas no tempo do GUTAC - Grupo de Teatro Amador Campo-Grandense, as dificuldades enfrentadas e sua luta diária como gestor, pela valorização dos artistas. O apoio e a importância do setor de artesanato quando de sua passagem como presidente da Fundação de Cultura e seus novos projetos.

Blog do Alex Fraga - Você e Cristina Mato Grosso são os pioneiros no teatro no Estado. Fundou o Grupo Teatral Amador Campo-grandense - Gutac -,implantando assim o teatro como veículo de educação nas escolas. Hoje os grupos dificilmente se apresentam. O que pensa sobre isso?

Américo Calheiros - O G.U.T.A.C. - Grupo Teatral Amador Campo-grandense, foi a primeira iniciativa, minha e da Cristina Mato Grosso, para fazermos teatro amador. Na verdade, foi com o G.U.T.I.C - Grupo Teatral Amador Infantil Campo-grandense, que denominávamos de filhote do G.U.T.A.C., que nasceu a ideia de levar teatro às escolas da rede estadual de ensino. Após quase cinco anos de duração, paramos porque o projeto não tinha mais viabilidade. Como eu ministrava aula na rede municipal de ensino, sem a participação da Cristina, propus e recebi a adesão da divisão de cultura da SEMED - Secretaria Municipal de Educação para realizarmos um festival de teatro para os alunos da REME. Foi um sucesso e o teatro ganhou um tremendo espaço nas escolas. Foram grandes momentos vividos pelo teatro na educação. Gradativamente o entusiasmo foi cessando e as iniciativas nesse sentido, finalizaram. Hoje, acredito que os grupos de teatro não estão tão presentes nas escolas porque as dificuldades são maiores e os apoios menores.

Blog do Alex Fraga - O que significa o termo Cultura como conceito definidor da identidade de um povo ?

Américo Calheiros - Cultura é tudo e em tudo está !. Talvez seja o conceito mais amplo e simples da palavra cultura, mas nem por isso é um conceito simplista porque não deixa de ser verdadeiro. Vou apoiar-me em um conceito por mim criado: “Cultura é o conjunto de distintas formas de ser, estar e interagir de um povo, que define sua identidade”. Todas as experiências, costumes, tradições, histórias, saberes e memórias de um povo, são reveladoras de sua identidade, à medida que permitem o seu autoconhecimento como um povo que vê suas autenticidades, peculiaridades e diferenças dos demais. Mergulhar nesse mar de informações é trazer à tona a sua identidade que é sempre única, embora possa ter semelhanças e influências de outros povos.

Blog do Alex Fraga - Existe relação entre a cultura material e imaterial em termos de significados culturais?

Américo Calheiros - Embora sejam distintas em suas conceituações, nada as impede de se associarem, enquanto manifestações culturais identitárias de uma localidade, de um povo, de uma sociedade.

Blog do Alex Fraga - Nos últimos tempos a classe artística de alguns setores parece que se acomodou e só fica dependendo de editais governamentais. Isso se deve a que? Parece que se não tiver apoio dos órgãos culturais, não há Cultura...O que pensa disso?

Américo Calheiros - Ainda não temos em nosso Estado, um mercado de arte consolidado e em efervescente atividade, como já existe em grandes centros culturais do país, que permite aos artistas, produtores culturais e técnicos atuantes na área, viver de sua profissão, salvo honrosas exceções. Isso, de certa forma, gera à maioria dos artistas e demais profissionais da área uma certa dependência de editais, de outras formas de patrocínios governamentais e de outros setores, portanto impossível abrir mão dos editais e afins. Faz-se necessário que os segmentos interessados nesta questão, busquem novas alternativas com vistas ao fortalecimento do mercado de arte sul-mato-grossense. É uma tarefa para toda coletividade opinar, participar e buscar saídas, afinal, a economia criativa pode gerar muito emprego e expressiva renda.

Blog do Alex Fraga - Grande parte dos artistas, principalmente os artesãos (que são esquecidos), diz que você foi o melhor presidente da Fundação de Cultura, justamente por ser um artista e que teve um olhar para um todo. Como foi seu trabalho? Enfrentou muita pressão?

Américo Calheiros - Minha vivência como artista, ajudou sobremaneira, no meu trabalho como gestor. A união da sensibilidade e da racionalidade, na criação e implementação de políticas públicas que proporcionassem aos distintos segmentos da arte e da cultura maior desenvolvimento, foi preponderante. O artesanato galvanizou significativa atenção na minha gestão, por conta da necessidade de dar a esse setor o merecido respeito, visibilidade e valorização. Reconhecer o artesanato como forte elemento da nossa expressão popular, da nossa história e identidade foi vital. Assim fizemos. Também promovemos inúmeros cursos de capacitação para aprimorar a produção local, a participação em 40 feiras de renome nacional para divulgação dos artistas do artesanato do Estado de Mato Grosso do Sul e a criação do Centro Referencial do Artesanato, no prédio da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul para preservação das obras dos pioneiros. Lançamento de concursos temáticos, de exposição temporárias na Casa do Artesão e o registro histórico do artesanato em Mato Grosso do Sul foi feito através da publicação denominada Vozes do Artesanato. Pressões sempre existem, mas nenhuma que fosse tão forte a ponto de impedir meu trabalho.

Blog do Alex Fraga - Dos seus trabalhos literários gosto muito de Memória de Jornal, que tenho em minha casa. Mudou sua visão daquele tempo para cá até ser hoje um acadêmico da ASL?

Américo Calheiros - Acredito ter aprimorado minha visão de mundo, com consequente influência no meu trabalho literário. Memórias de Jornal foi meu segundo livro. De lá para cá, produzi Da Cor de Sua Pele, A Nuvem que Choveu, Poesia pra que te quero, Na virada da esquina, Inteiras e Meias Verdades: reflexões em citações, Campo Grande, Aquarela de Luz e mais três livros que serão brevemente lançados. Uma coisa em mim não mudou, a minha essência onde está escrito, com fortes letras, o meu desejo de contribuir para uma humanidade melhor, seja através da literatura ou pelo simples ato de viver.


 
 
 

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