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Crônica - Pescaria Pantaneira, por Carlos Magno Amarilha

  • Foto do escritor: Alex Fraga
    Alex Fraga
  • 7 de nov.
  • 5 min de leitura
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Sexta-feira no Blog do Alex Fraga é dia de crônica com o poeta e escritor Carlos Magno Amarilha, com "Pescaria Pantaneira"


PESCARIA PANTANEIRA.


Meu coração ainda palpita só de lembrar daquela épica jornada no Pantanal! Aquele convite do Alex, do Nelson e do Athayde para irmos conhecer a fazenda do Nelson, banhada pelas águas do Rio Paraguai Mirim, transformou-se em uma saga de pescador extraordinária, e vou compartilhar cada detalhe com vocês. Ainda era noite cerrada quando deixei Dourados, a ansiedade me impulsionando pela estrada rumo a Campo Grande. Cheguei às quatro da madrugada e lá, meus parceiros já fervilhavam de expectativa. A bordo do possante picape Jeep do Alex, cortamos o asfalto até Corumbá, embalados por uma alegria contagiante e conversas animadas sobre futebol, política, do mundo, da literatura, o bate papo corria frouxo, com a sinfonia do motor se misturando às nossas histórias sobre os peixes colossais que nos aguardavam. Em Corumbá, a lancha nos acolheu, rasgando as águas do Rio Paraguai por oito longas horas. Cada curva do rio revelava um novo espetáculo da natureza pantaneira, com a fauna e a flora exibindo sua beleza selvagem. O Alex, com olhos de lince, avistava cada animal, cada detalhe da mata ciliar. O Nelson, nosso guia experiente, nos contava causos de pescarias memoráveis e nos preparava para os desafios que viriam. E o Athayde... ah, o Athayde já estava com a mente nas fisgadas épicas que o esperavam. A sede da fazenda nos acolheu com a hospitalidade genuína do pantaneiro, com churrasco, mandioca, caipirinha e bolo de sobremesa. O dia amanheceu e já estávamos armados até os dentes com varas, iscas e uma sede insaciável por fisgar os gigantes do rio. E não demorou muito para a emoção explodir! O Alex, com sua energia contagiante, foi o primeiro a sentir a força bruta da natureza na ponta da linha. A vara arqueou de um jeito assustador, a carretilha cantava desesperadamente e a luta se estendeu por longos minutos. Era um cabo de guerra aquático! Finalmente, a superfície da água se agitou e um Pintado MONSTRUOSO, com seus imponentes 45 quilos, surgiu, prateado e majestoso. Foi um alvoroço! Gritos, abraços e fotos (as que puderam ser tiradas, claro!). No período vespertino, bem tardezinha, o Nelson, não querendo ficar para trás, lançou sua isca com a precisão de um mestre. Não demorou muito e a cena se repetiu, só que dessa vez com uma intensidade ainda maior. A briga foi épica, cada puxão do peixe parecia querer arrancar a vara de suas mãos. E quando o gigante emergiu, ficamos boquiabertos: um peixão conhecido como "Pintado" de CINQUENTA QUILOS, uma baleia de rio! O Nelson, com um sorriso de orelha a orelha, mal conseguia acreditar no troféu que havia fisgado. O Athayde, com sua calma aparente, mas com a alma de um pescador raiz, parecia ter um pacto com os peixes grandes. No terceiro dia, sua linha esticou de uma forma que nunca tínhamos visto antes. A luta foi titânica, parecia que ele estava tentando domar um touro selvagem submerso. Depois de uma batalha extenuante, um colosso surgiu das profundezas: um peixe chamado Jaú de OITENTA E NOVE QUILOS! O peso era

impressionante, a força daquele bicho era de outro mundo. Precisamos de todos para ajudar a erguê-lo para uma foto rápida antes de devolvê-lo às águas. E eu? Bem, minha hora de glória estava reservada para o último dia. Fomos pescar de canoa em um local mais isolado, um verdadeiro paraíso selvagem. Para chegar lá, tivemos que navegar por entre cachoeiras e corredeiras, lugares tão isolados e úmidos que era impossível levar celulares ou câmeras fotográficas sem correr o risco de molhar tudo. Mas a beleza do lugar compensava qualquer perigo. Lancei minha linha em um ponto que o Nelson havia indicado, um lugar que, segundo ele, abrigava "os grandões". A espera pareceu uma eternidade, até que senti um puxão... não, não era um puxão, era como se o fundo do rio tivesse agarrado minha isca! A vara vergou até o limite, a carretilha gritava ensurdecedoramente e a canoa quase virou com a força da puxada. A luta que se seguiu foi a mais insana que já vivi. Parecia que eu estava tentando domar um submarino! Meus músculos gritavam, minhas mãos estavam dormentes, mas a adrenalina me impulsionava. Depois de uma batalha épica, que pareceu durar horas, a sombra de uma criatura colossal surgiu nas águas turvas. Era... era algo inacreditável. Um peixe gigantesco, muito maior que um carro! Estimamos, na jura sagrada de pescador, mais de DUZENTOS E CINQUENTA QUILOS! Era uma coisa de outro planeta, um ser lendário das profundezas do Pantanal. Infelizmente, como estávamos em um local remoto e sem câmeras, essa imagem monumental ficou gravada apenas em nossas memórias. Mas acreditem em mim, era algo que desafiava qualquer imaginação! Claro que, como todos os outros, ele voltou para as águas, livre e majestoso. Mas a aventura não se limitou às pescarias de tirar o fôlego. Aquele Pantanal selvagem também guardava seus perigos. Em uma de nossas expedições de canoa, nos deparamos com um Crocodilo raivoso, com olhos famintos e dentes afiados como navalhas. Ele veio para cima da canoa com uma fúria assustadora! A situação era desesperadora, mas a adrenalina correu nas minhas veias. Instintivamente, assumi o controle da canoa, manobrando com a agilidade de um piloto de rali aquático improvisado. Com movimentos rápidos e precisos, consegui enganar e despistar as investidas do réptil gigante, desviando a canoa por centímetros de suas mandíbulas mortais. Foi por um triz! E não parou por aí! Em uma de nossas incursões pela mata, uma Onça-pintada surgiu na trilha, seus olhos amarelos fixos no pobre do Athayde, que congelou de pavor. Antes que a felina pudesse dar o bote, uma Cascavel sorrateira surgiu no meio do caminho, pronta para dar o bote no tornozelo do nosso amigo! A situação era de filme de terror! Mas a sorte (ou seria um instinto de sobrevivência?) me guiou. Sem pensar duas vezes, agarrei um pedaço de pau caído no chão e arremessei com toda a minha força na direção da cascavel, que, assustada, se embrenhou no matagal. A onça, confusa com a movimentação, hesitou por um instante, tempo suficiente para darmos o fora dali em disparada! E digo, cada palavra é a mais pura

verdade... história de pescador, sim, mas cada susto foi real! Mas nem só de perrengues e peixes gigantes viveu nossa aventura pantaneira. As noites eram pura farra e diversão! Depois de um dia exaustivo de pesca e de escapar por um triz das feras, nos reuníamos na sede para partidas acirradas de truco, com blefes monumentais e risadas contagiantes. A mesa de sinuca era palco de disputas épicas, com tacadas geniais e bolas inacreditáveis. E as histórias caipiras, contadas pelo Nelson e pelo Athayde com seus sotaques carregados e seus exageros hilários, nos faziam chorar de rir até altas horas da madrugada. E eu? Confesso que, em meio a tantos feitos heróicos e pescarias memoráveis, minha maior conquista foi vivenciar tudo isso ao lado de amigos tão incríveis. A camaradagem, as risadas, os perigos superados juntos... tudo isso fortaleceu ainda mais os laços que nos unem. A viagem de volta para casa foi embalada pelo cansaço, mas também pela alegria de termos vivido algo único e inesquecível. As histórias dessa épica pescaria no Pantanal, com seus peixes colossais, seus perigos selvagens e suas noites de pura diversão, certamente nos acompanharão por muitos e muitos anos, rendendo risadas e lembranças preciosas. E no fundo, no fundo, já estamos sonhando com a próxima aventura... ah! Evidentemente, não pude contar o que aconteceu, só maiores de dezoito anos, coisas de disco voador e de outros planetas, porque no Pantanal, a magia nunca acaba!


Carlos Magno Mieres Amarilha In: Crônica do Dia. “Pescaria Pantaneira”. Prelo, 2025.

 
 
 

6 comentários

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12 de nov.
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Muito bom

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08 de nov.
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

❤️❤️❤️❤️❤️❤️😎😎😎😎😎😎💪🏾💪🏾💪🏾

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07 de nov.
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

Que/Viagem/Meu/Ermão! Merece um filme.


Frank Cegildo

Dourados-MS

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Convidado:
07 de nov.
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

Gostei, bem argumentado

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Convidado:
07 de nov.
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

A crônica não se limita à pesca, mas também sublinha o lado selvagem e imprevisível do Pantanal.

A aventura de "Pescaria Pantaneira" é marcada por momentos de pura adrenalina onde a natureza se mostra grandiosa e perigosa. O cronista narra, com tensão e humor, dois encontros que testaram os limites do grupo:

- O Crocodilo raivoso: Durante uma pescaria de canoa, o autor precisou de reflexos rápidos para desviar a embarcação das investidas de um crocodilo furioso.

- A Onça e a Cascavel: Em um clímax de suspense, uma Onça-pintada e uma Cascavel ameaçam o amigo Athayde simultaneamente, sendo o perigo evitado por um rápido ato de heroísmo do narrador.

Estes incidentes, recheados do exagero típico das "histórias de pescador",…


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