Terça-feira no Blog do Alex Fraga é dia de crônica com a poeta, professora e escritora de Campo Grande (MS), Tânia Souza, com Uma carta de amor e desabandono.
Querida e amada Naiane,
Enfim, te escrevo. Mando também uma carta à mamãe e a minha afilhada. Não foi falta de coragem, não. Foram as palavras chegando devagarinho, cada dia uma linha. Até que hoje, soube o que dizer. Hoje, quando comprei uma linda colcha de retalhos. Noites frescas e manhãs ensolaradas entrelaçadas em tecido e estampas. Essa colcha não é para mim, querida sobrinha. É tua.
Não peço perdão por ter me ausentado, finalmente segui o que aprendi contigo: não se pode dizer sempre não aos desejos da alma. Sua prima Nara, minha passarinha, ensaia voos por esse mundão. Mas você sabe o quanto minha alma sonhava voos.
Eu precisava da maresia. Da areia quentinha, das coisinhas miúdas que o mar devolve. Do verde fresco das plantas ao meu redor. E se meu coração ainda fica pequeno de saudade de vocês, também fica gigante quando me lembro de suas palavras: não há o que temer dos horizontes. Sua coragem me inspirou e me reencontrei.
Ao pôr-do-sol, minha bicicleta e eu descemos até a cidade, vejo as cores, os sotaques, a imensidão do mar. Não digo que tudo seja paraíso, pois o cantinho que escolhi é cercado de mato e um pouco longe, mas é tão bonito, Nai! Minhas pernas agradecem as pedaladas.
Escrevo para te dizer que estou aqui, como sempre estive, para você.
Estou aqui para você, para mamãe, para Nara e minha pequena afilhada, herdeira de nossos melhores amores. Ofereço colo, chamego e
pouso. Também lhe guardo bailes ao luar, que a sanfona chora bonita demais e sei de seu encanto pela música.
Venha dançar a vida, sobrinha amada. Para ti, haverá sempre uma rede entre as árvores para boas tardes e uma colcha de retalhos para noites acolhedoras.
Este novo ninho é também sua casa.
Com amor,
Sua tia Paula.
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