Quinta-feira no Blog do Alex Fraga é dia de crônica com a poeta e escritora de Campo Grande (MS), Raquel Naveira, com Primeiro Amor
PRIMEIRO AMOR
Raquel Naveira
Ouço o bolero “Solamente una Vez”, na voz de Julio Iglesias. Que melodia e que letra lindas. Declarar que somente uma vez ele amou na vida. Que somente uma vez no seu pomar brilhou o fruto da esperança, iluminando o caminho da sua solidão. Que somente uma vez se entrega a alma com doce e total renúncia. Nesse momento, o milagre acontece: o prodígio de se amar verdadeiramente. Sinos de festa cantam no coração do poeta. A palavra “campanas” me lembra “campânulas”, flores mimosas em forma de sino, pequeninas e delicadas. Elas transmitem afeto, humildade, amor eterno. Tilintam nas hastes com o vento.
Essa música é de autoria do cantor mexicano Augustin Lara (1897-1970). Embora pareça uma canção romântica sobre o amor de um homem e uma mulher, foi dedicada ao guerrilheiro José Mujica, o Pepe, que foi presidente do Uruguai, de 2010 a 2015. Augustin exalta o amor de Mujica a Deus e à sua vocação de líder desejoso de justiça.
Não é, portanto, um poema sobre o avanço das primeiras paixões da adolescência, daqueles sentimentos profundos que provocam um coquetel químico no corpo e no cérebro. Não é um lamento por não conseguirmos esquecer um amor impossível que deixamos no passado, mas que sempre volta à lembrança. É um hino a um amor maior, um amor cheio de fervor, devoção, lágrimas vertidas no cárcere.
Quando aconteceu pela primeira vez meu encontro com o amor, tive a noção do que era servir com intensidade a uma causa, um país, um príncipe. Agora, com as forças alquebradas, não quero correr o risco de abandonar essa luz que brilha num candeeiro dourado. Se não ficar alerta e me arrepender, eu sei, o candeeiro será movido deste lugar. Justo esse foco que clareia minha mesa e projeta meu rosto na vidraça da janela. Que, no breu, parece uma estrela apontando para minha origem astral. Aparo os pavios, encharco-os de óleo, enquanto as folhas da amendoeira crepitam no fogo do outono. O esplendor desse candeeiro me faz guerreira. Sonhar com vitórias e imortalidade. Ah! Conheces meu trabalho, minha paciência, meu esforço espiritual. O que tens contra mim? Por que queres tirar de mim esse candeeiro? Sem ele não poderei escrever nas noites mais escuras. Perderei minha essência. Quero voltar ao início, ao dia em que senti uma chama vermelha e azul dentro de mim. Ela me deixou estranhas marcas tatuadas no peito. Voltar ao primeiro amor, o mais louco, o mais bonito e sincero. Aquele que provei somente uma vez. Foi o primeiro e será também o último.
Belíssima crônica! Parabéns, Raquel!
Refletindo sobre a música "Solamente una Vez" e a crônica de Raquel Naveira percebo que elas se entrelaçam, explorando a dualidade entre o amor humano e divino. Enquanto a melodia envolvente evoca a singularidade do primeiro amor e sua influência duradoura, a crônica expressa essa mesma intensidade emocional, destacando a importância desse sentimento como fonte de inspiração e esperança. A metáfora do candeeiro dourado na crônica ecoa a luz do amor mencionada na música, simbolizando uma chama que deve ser preservada. Assim, ao unir essas obras, somos conduzidos a uma reflexão sobre a natureza do amor e sua conexão profunda tanto com o divino quanto com o humano. Tornando essa a junção perfeita, a união de palavras e sentimentos que…
Como sempre. Brilhante Raquel Naveira.
Maria das Gracas
Minha lírica e apaixonada amiga! Parabéns Raquel ! Linda crônica… espero que estejam juntos até hoje!!!
Parabéns poético, magnífica escrita
Maria de Lourdes da Costa