Quinta-feira no Blog do Alex Fraga é dia de crônica da escritora e poeta sul-mato-grossense Raquel Naveira com seu texto intitulado "Mate".
MATE
Raquel Naveira
Faz parte de nossa tradição tomar mate. Chimarrão é o mate cevado, sem açúcar, regado a água quente. Tereré é o refresco, bem gelado. De acordo com o clima, passa-se do chimarrão ao tereré.
Para tomar mate é necessário adquirir uma cuia, morena e matuta, uma bomba ou bombilha e a erva moída, fina ou grossa, nativa ou pura folha defumada. Tudo fica semelhante a “um coração verde com uma artéria de prata”, conforme poema do gaúcho Aparício Silva Rillo.
O ideal é tomá-lo numa grande roda, sob um laranjal. Ajuda a fazer e solidificar amizades.
Se houver os serviços de alguém disposto a “carregar mate”, ótimo. “Carregar mate” significa segurar a chaleira, passar a cuia de uma mão para outra, de uma boca para outra, respeitando a vez de cada um, a animação da prosa e o ritmo dos sorvos. Levar a chaleira lá dentro para esquentar de novo no fogão, quando a água começar a esfriar, para não azedar o mate.
É bom que haja no céu um sol bem vermelho e uma poeira cor-de-tijolo envolvendo tudo.
Se for na hora do quiriri e algumas estrelas perfurarem a tarde com suas pontas de lata, a conversa será mais lenta.
Se alguém falar alguma frase, alguma palavra em guarani, como “che-kambá” ou” cunhataí”, dará mais sabor à erva.
Importante mesmo é que haja um clima de comunhão, de cachimbo da paz, tudo muito morno e quente.
Tomo mate toda tarde com meu amigo, antes do sol se pôr, antes de acendermos as luzes, no lusco-fusco. Encho a cuia, derramo erva verde num canto, coloco galhos floridos de marcela. Gosto daquela cuia enfeitada de pedras vermelhas, preciosas como as daqueles anéis que a gente comprava nos bolichos da estrada. Depois vem a água quente, escaldante, saindo da chaleira de louça verde esmaltada, vinda do Paraguai. Meu amigo se anima, conta histórias, enquanto o mate amargo conforta seu coração. Quando meu amigo toma mate e eu tomo mate com ele, nós nos fazemos companhia. É como se um manso regato escorregasse aos nossos pés.
Melhor que mate, só a serenidade e a constância, no coração.
Um texto delicioso de se ler. Eu realmente degustei suas palavras nesse chá mate. Parabéns, querida Raquel.