Sábado no Blog do Alex Fraga é dia de crônica da poeta, escritora e professora e Literatura da UFMS, Lucilene Machado com Amores Impossíveis.

AMORES IMPOSSÍVEIS
É inteligente reconhecer que a vida está pontuada por amores impossíveis, no entanto, a mais avançada inteligência humana pode se enamorar deles. Uma conversa, um olhar, um sorriso e todo o azul do céu cai sobre a sua alma. Algumas tentativas e você desconfia que não haverá maneira de acasalar sua vida com a daquela pessoa, contudo, não é raro um vento poético embriagar nossos ouvidos com promessas clichês de que não há barreiras para o amor; bíblicas de que a fé remove montanhas ou literárias de que seremos “felizes-para-sempre” como nos contos de fada. Convém reconhecer que o amor impossível é um tanto ridículo, cheio de coincidências, de deja vus e sinais que justificam o nosso especial apreço pela pessoa elegida. E, não sei se por carência ou outro disparate, lutamos com afinco para manter vivas as fantasias na qual estamos arraigados. De fato, não é fácil aceitar que há amores que vão nos tirar o fôlego, que vão dar sentido à nossa história e que nos serão definitivamente arrancados. Um tremor sísmico abalará nossa estrutura e a consequência será o nosso emocional sobre raízes secas. Passamos a viver na gangorra do sobe e desce, do posso-não-posso, do quero e não entendo, do quero-e-não-aceito... até subirmos numa montanha russa de emoções desenfreadas que nos deixará aturdidos. O amor impossível é um dropes envenenado. E muitas vezes não há justificativa plausível para sua ruína. Atribuem-se às circunstâncias de tempo e lugar; à falta da química incapaz de fluir nas duas direções e ativar a desejada reciprocidade; ao medo; à palavra não dita, ou dita e mal interpretada, ou até aos astros que não se alinharam para nos beneficiar. Certo é que o diagnóstico de amor impossível é mesmo difícil de suportar. É como uma doença incurável que passa por vários estágios até ser decretada sua morte. E a prescrição é deixar de beber a esperança desse amor, deixar de fumá-la, de alimentá-la, de pensá-la..... ou seja, abstinência total. Esperança minguada, a primeira etapa se resume a lágrimas. Chora-se vendo filmes, ouvindo música, no teatro e até no circo somos capazes de nos emocionar ao ver o elefante solitário fingindo-se de estátua sobre um banquinho minúsculo, encenando uma realidade que não é a dele. Depois vem o silêncio. Somos transformados também em estátuas silenciosas transpirando dores pelos poros. Nessa fase nos convertemos em covardes suicidas. Queremos morrer, evaporar, qualquer coisa que encurte o período de sofrimento, nos embebedamos no álcool da tristeza, já que, teoricamente, não conseguimos matar o amor enraizado em nós. Passamos para a fase da morte inventada, espalhamos a notícia pelo continente, quiçá outras instâncias, tentando salvar nosso orgulho nessa fogueira da vaidade que é o mundo. Por fora distribuímos sorrisos, mas por dentro continuará a arder a fogueira do amor queimado por tempo não definido. Mas, retomando o lugar comum, tudo um dia passa. O tempo dobra-se sobre si mesmo e encobre a nossa dor. Tomamos distanciamento de nossas ações e tudo nos parecerá irreal. Constatamos que como protagonistas fomos péssimos atores de um drama arcaico no pior dos sentidos. Porém, não foi em vão. Devemos supor que existam algumas lições a serem tiradas da cura do amor impossível. Não sei se há alguma verdade básica a ser apreendida que possa impedir a recorrência desse amargo desapontamento e oferecer alguma proteção. Por enquanto, nos anais dos sentimentos irrealizáveis, só encontro perguntas.
Lucilene Machado Professora de literatura UFMS
Comments