Quem teve a oportunidade de assistir no último sábado (13), a transmissão inédita da
"live dos garotos indígenas" da aldeia Jaguapirú Bororó, do município de Dourados – Mato Grosso do Sul, pode com certeza se encantar com a coragem, identidade política e principalmente a resistência de levar pelo rap, letras que mostram a realidade do mundo de onde vivem e os diversos problemas que os índios enfrentam há anos, principalmente o preconceito se ser apenas “índio”. A live teve uma parceria com o Coletivo Casa dos Ventos, Casulo, Comitê de Defesa Popular, Aduems, o Simted Douradoss e a AdufDourados, além de ter apoio de entidades indígenas como o Conselho Kaiowá Aty Guasu. A Live Solidária foi em prol das famílias guarani-kaiowá. O grupo Brô Mcs formado pelo quarteto Charlie Peixoto, Bruno Veron, Kelvin Peixoto e Clemerson Veron em sua live mostrou que esses anos de luta constante para firmar como artistas indígenas cantando rap está valendo a pena, justamente porque manteve um profissionalismo que muitos artistas não têm no próprio Estado. Essa live teve a participação da cantora Dani Muniz (voz interessante e agradável de se ouvir) e do DJ HG, que mandou muito. Uma produção ótima e mesmo que alguns ainda possam criticar os meninos indígenas de escolherem um som americanizado e seus trejeitos, demonstraram que podem sim manter essa tradição indígena com seus cantos, de uma forma que alcance melhor o público “branco”. Uma live que teve a preocupação em debater o tema sobre o Covid 19 e que através da produtora Fabi Fernandes afirmou que hoje há mais de 100 indígenas infectados somente na reserva Jaguapirú-Bororó, onde a situação é precária e de abandono pelos órgãos governamentais. A intenção em cantar na língua guarani-kaiowá e com mistura do português abre ainda mais o espaço para que as pessoas compreendam as necessidades e luta constante de um povo injustiçado e perseguido desse o início da colonização neste país. Apesar do Brô Mcs ter dividido palco com artistas de renome como Milton Nascimento e ter excursionado pela Europa, não perdeu a simplicidade e suas raízes. As letras são extremamente fortes e realistas. Abordam matança, suicídios, preconceito social, terras “roubadas” da comunidade e principalmente a continuidade de uma incansável luta por espaço. O mais importante é que o grupo sempre está colocando essa proposta para que as pessoas reconheçam através de seu som, os elementos de um diálogo mais franco e direto sobre a situação das tribos indígenas, principalmente da região de Dourados (MS) que há problemas sérios. As músicas que foram apresentadas na live mostraram tudo isso. Emocionante a canção “Eju Orendive”, como “Oz Guarani – O índio é forte”. “Tupã” e “Terra Vermelha”. Letras extremamente fortes e que passam o poder e o sofrimento desses grandes guerreiros indígenas. Alguns patéticos vão até dizer que os índios não deveriam sair dos seus cantos tradicionais, algo que é um absurdo, pois todos têm o direito de modificar e aproveitam as tecnologias existentes mesclando com os ritmos diversos. O importante é que o grupo Brô Mcs está mostrando a cara de sua nação em uma levada interessantíssima que é a do rap. Os meninos mandaram muito bem e sem dúvida até o momento foi uma das melhores lives que até hoje que pude assistir. Que mais grupos indígenas de rap, rock, samba, clássica, pop e outros ritmos musicais surjam e empurrem esse preconceito besta e totalmente inútil!.
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