
Por Isaac Ramos*** - - -
Ir a um show de rock, no último domingo, no Palácio Popular da Cultura, às 18h, fez-me lembrar do começo da década 80, quando frequentava as matinês do Clube Surian. A banda Zutrik, do músico Miguelito, era quem comandava a festa. Dessa vez fui ao espetáculo "AC/DC: Experience In Concert"!, (uma promoção local de Pedro Silva Promoções e Jamelão). Tocar o repertório da banda de hard rock australiana, fundada em 1973 pelos irmãos Malcolm e Angus Young, não é tarefa das mais fáceis. Entretanto, os brasileiros saíram-se muito bem. As cortinas se abriram por volta das 18h20min, aos acordes de “Thunderstruck” e os backing vocals: “(Ah-ah-ah-ah, ah-ah-ah-ah)/ Thunder (ah-ah-ah-ah)”, do lp The razors edge (1990). Sim. Sou do tempo do vinil. O som soava nítido e bem alto, como convém a um legítimo show de rock, iluminação sincronizada e caleidoscópica, poltronas confortáveis, um público participativo que, contudo, poderia ter sido mais numeroso. Um detalhe chamou a atenção: a presença marcante de diferentes gerações. Inclusive foi enaltecido pelo vibrante vocalista da banda, cuja voz é parecida com a de Bon Scott (vocalista falecido em 1980) e um visual a la Brian Johnson, com um boné, que o sucedeu brilhantemente. Este último chegou a se afastar da banda, em 2016, por sérios problemas auditivos. Na ocasião, durante uma turnê foi substituído por Axl Rose, lendário vocalista do Guns N’ Roses. Em 2020, retornou à banda e está até o momento.
Provavelmente, grande parte do público presente conhecia quase todo o repertório da banda original. Para mim, o quarto álbum, Let there be rock (1978), é o divisor de águas. Foi o primeiro álbum que adquiri do AC/DC, ainda na adolescência. Na última música do álbum, “Whole lotta rosie”, os amplificadores literalmente pegaram fogo durante a gravação. No show de domingo, a plateia parecia saber disso. No palco, a banda afinada, acompanhada de uma competente orquestra, desfilava riffs imortais desde “Dirty deeds done dirt cheap”, passando pela pulsante “The jack”, que tem a cena de strip tease parcial do guitarrista original, Angus Young. No show do Experience, resumiu-se a retirada da jaqueta rodopiando-a sobre a cabeça e depois joganda-a, no chão do palco. Mesmo assim foi possível ouvir suspiros e risadas, sobretudo de mulheres. Destaque para a mistura sonora da banda e da orquestra. Apenas nas mais rápidas e pesadas o rock encobriu-a. Quando era meio pop rock, ouvia-se perfeitamente como nos acordes de “You shook me all night long” e depois com “Back in black”. Nos solos mais longos do guitarrista solo, não podia faltar as corridinhas pela lateral do palco e o olhar para a plateia fazendo timidamente o chifrinho do heavy metal. A bem da verdade, não teve momentos de rodopio, com os pés agitados para cima como Angus Young o faz. Todavia foi possível acompanhar a batida e o ritmo sincopado de músicas como "High Voltage", tocada perto do final do show. Se o guitarrista do Experience não fez as pirotecnias que Angus faz no palco, o mesmo não pode ser dito do vocalista. Carismático, com agudos e graves bem encaixados, sempre buscou a participação dos aficionados fãs do AC/DC, que se fizeram presentes.
O desfile de sucessos continuou com “Jailbreak”, “Highway to Hell", "Back in Black" e outros preparando o público para o grande final, que veio no Bis: “Whole lotta rosie”, "For Those About to Rock (We Salute You)" e a famosíssima TNT: “(TNT) Oi, oi, oi, oi!/
(TNT) Oi, oi, oi, oi!/ (TNT) Oi, oi, oi, oi!/ (...) I’m dinamite”. A noite de hard rock estava completa. Nem percebi que era domingo de pré-carnaval. Essa incrível matinê fez-me lembrar de dois shows inesquecíveis que assisti do AC/DC dos irmãos Young, em 1985, no primeiro Rock in Rio. Sim. Eu estava lá no meio dos metaleiros, nas primeiras fileiras. Assim como estive no último domingo, em Campo Grande - MS. A experiência foi muito boa. Yeah! (Com o segundo e o quinto dedos levantados sobre a cabeça)
*** É professor universitário, escritor, poeta e amante do rock
Isaac Ramos para o Blog do Alex Fraga
Parabéns! Excelente!
Fui e gostei.
Maria Clara - Campo Grande MS