A escritora norte-americana Diana Gabalon escreveu um dia que: "Qualquer boa música é na essência uma canção de amor". Nos últimos tempos estou até escolhendo os eventos culturais para ir, pois talvez até mesmo quanto mais o tempo passa, mais exigência e até ranzinza ficamos. Procuro essência, suavidade, amor. Estive pela primeira vez na última quarta-feira, no Teatro Mundo, em Campo Grande (MS), a convite daqueles artistas que iriam realizar o show intitulado "2 Lados". Um espetáculo autoral. Carlos Colman, Ana Duarte, Maria Cláudia e Marcos Mendes, que para alguns, aqueles "ditos" não conhecedores da música sul-mato-grossense, que um show assim seria muita ousadia por ser autoral. Ousadia? O que podemos dizer é o desconhecimento total sobre o trabalho de artistas do Mato Grosso do Sul. Posso escrever uma coisa de imediato: o show "2 Lados" foi de um profissionalismo brilhante. Com apenas 15 minutos de atraso do horário estabelecido (20 horas), os quatro subiram ao palco, juntamente com os músicos Carlinhos Batera (bateria) Juninho MPB (baixo acústico), cientes de que iriam mostrar seus trabalhos para uma plateia que lotou o local em plena quarta-feira. Sim, ouvir música autoral meio da semana (o que é natural nos grandes centros), mas que se torna inédito por essas bandas de cá. Sem delongas e falas, o show teve início com uma projeção e trabalho cenográfico sobre como iniciou tudo, realizada por Letícia Maidana. No som, Eloy e iluminação de Fernando Lopes. Já na primeira canção, diferenciada do que normalmente ouvimos de Carlos Colman cantar. "Forró Espacial" - surpreendente e mostrando a versatilidade desse grande artista, que aliás merece ser mais valorizado pelos órgãos culturais do Estado. Em seguida, "Eu já vou", de Marcos Mendes, com a voz afinadíssima de Maria Cláudia (a que sempre bati na tecla que é a melhor do MS sem qualquer dúvida). "A Ponte", outra de Colman, que segundo ele, compôs na época da pandemia (bela canção). "Rio Limpo", Marcos Mendes soltou sua voz com seu trabalho autoral. E assim, o público presente foi se encantando com as músicas desses grandes nomes de nossa verdadeira canção regional/nacional. "Gente e Coisas", também de Marcos foi uma das que mais me encantou. Maria Cláudia interpretou maravilhosamente bem, uma canção mesclada com a latinidade. Em seguida, "Teu Olhar e o Meu", Marcos e Cláudia dão um banho de sonoridade. Mas, o importante é ressaltar a participação de Ana Duarte, voz, teclado e violão - preenchendo em vários momentos, aquela cereja musical que talvez faltaria. Colman mostra, "Enquanto eu estiver só", outro trabalho incrível (cantando só) . "Coisas do Olhar", de Marcos Mendes (essa já conhecida pelo público), mas que surpreendentemente, foi cantada por Colman. E é essa troca que mostra esse jogo intimista desses artistas (cantar uma canção do outro, porque acha boa, interessante e foge talvez daquele que era o esperado). "Tudo Passa", Maria Cláudia e sua suavidade musical retorna, mas com a ajuda no vocal dos três. Um show a parte. "Tudo no seu Tempo", canção talvez a que mais lembrou do Carlos Colman e sua longa estrada musical. Uma guarânia - talvez mesclada com um ritmo de uma polca. A cara do artista. Os músicos então em um momento mais que especial, cantaram e homenagearam Paulo Gê, um dos maiores e representativos artistas que nos deixou com a canção Centro-Oeste, parceria com Carlos Colman. Magistral! Vieram então outras: "O que Deixamos", e a esperada por muitos, "Castelânea", que Carlinhos compôs há praticamente 40 anos, mas que continua atual nos corações dos mais velhos e dos jovens que a ouvem. Com arranjo diferente, o público cantou com entusiasmo e saudosismo. "Trem do Mato", composição de Marcos com Luciana Fisher, achei interessantíssima. Ritmo perfeito e uma letra contagiante. "Samba Encomendado", também de Mendes, foi diferente, pois colocou em ritmo para versos e apresentação dos músicos Juninho e Carlinhos - uma sacada muito divertida sobre aqueles que fazem a tal "cozinha" musical recheada de tons e sons. No final, outra que não poderia deixar de entrar nesse repertório fantástico autoral, a conhecida de Carlos Colman, "Coração Ventania". Ouve pedido de bis, sim... encerrando mais uma vez com "A Ponte". "2 Lados" foi uma lição musical autoral e que o artista sul-mato-grossense não deve nada para os considerados "grandes" de São Paulo, Rio, Minas, Bahia ou mesmo sul do país. Uma atmosfera musical linda. Seria interessante esse show pudesse rodar todo o Estado. Será um grande favor para a Cultura e a população do Mato Grosso do Sul.
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3 Comments
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Sensacional.
Marcia Pereira - Campo Grande MS
Quatro artistas fantásticos.
Marcelo de Paula - Jardim MS
São demais. Assisti o primeiro.. crítica perfeita.
Lucas Martins
Campo Grande MS