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Conto - As estrelas lá do céu, por Rogério Fernandes Lemes

Foto do escritor: Alex FragaAlex Fraga


Domingo no Blog do Alex Fraga é dia de conto com o poeta e escritor de Dourados (MS), Rogério Fernandes Lemes, com As estrelas lá do céu.



As estrelas lá do céu Por Rogério Fernandes Lemes

Nicolai acordou bem cedinho. Estava frio. A moça da televisão falava sobre a previsão do tempo para aquele dia. Seu pai estava na sala e ouvia, atentamente, tudo o que ela falava, enquanto abotoava os botões de sua camisa. Acordar cedo para estudar ninguém merece! Era o pensamento dentro da cabeça de Nicolai. Seus pais acreditam que estudar de manhã era melhor. Para eles, a criança memoriza e aprende mais. Por isso, deve dormir cedo para acordar cedo. Sua mãe levantava antes de todo mundo e colocava pão de queijo para assar. Nicolai imaginava que o planeta Terra era um enorme pão de queijo. Que pensamento bobo – pensava ele – mas, afinal, quem não tem pensamentos bobos todos os dias? Um dia, seu coleguinha de sala teve um desses pensamentos. Na hora do intervalo, logo que a professora foi para a sala dos professores, Gustavo e Nicolai foram até o canto do pátio e sentaram em um banco de madeira, embaixo de um pé de plátano. Nicolai ficou surpreso com o pensamento de Gustavo. Ele contou que pensa nas pessoas que morreram. Gostaria de saber para aonde elas vão depois que morrem. Nicolai nunca tinha pensado nisso. De repente, veio-lhe a lembrança do falecimento de seu avô. Ele não entendeu direito o que aconteceu no velório. Achou estranho seu avô ficar ali deitadinho o tempo todo. Nunca acordava. Nunca se levantava para conversar com as pessoas que vieram vê-lo. Mas uma coisa curiosa ele observou. As pessoas vinham até ele e diziam: “Oh, querido Nicolai. Vovô virou uma estrelinha e foi morar lá no céu!” Gustavo disse que, um dia, sentiu vontade de ficar de ponta-cabeça no sofá da sala de sua casa. Só não ficou porque o sofá era novo e sua mãe, mais que depressa, estabeleceu uma relação enorme de combinados. Os dois riram e ouviram o toque do sinal. Era aula de robótica. Ao término da aula, logo que viu sua mãe, Nicolai perguntou para aonde vão as pessoas que morrem. “Elas dormem” – disse ela. Aí que ele não entendeu mais nada. Então ele teve um daqueles pensamentos bobos: “Então é assim que serei quando crescer?” Os adultos são tão estranhos. No outro dia, assim que chegou à escola, viu que algo tinha acontecido. Uma de suas coleguinhas, Elizabete, chorava e estava abraçada com a professora. Depois que todos se sentaram, a professora contou que uma coisa triste tinha acontecido. Ela disse que o irmãozinho de Elizabete ficou doente e não resistiu à leucemia. Ela explicou que se tratava de uma doença grave e que era muito difícil encontrar um doador de medula óssea compatível. Nicolai então se levantou e foi até Elizabete. A professora apenas observou. Os demais alunos, em silêncio, também observavam. — Tenha calma – disse ele. Seu irmãozinho agora é uma estrelinha lá no céu. O caminho é longo e por isso ele tirou um cochilo até lá. Fique tranquila. Ele dorme.


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