Sábado no Blog do Alex Fraga é dia de conto com o médico clínico geral, acupunturista e escritor de Campo Grande (MS), João Francisco Santos da Silva, com "A Vassoura Voadora".
A vassoura voadora
O homem seguia andando pela rua quando ao olhar para o céu viu um vulto passar voando baixo. Parecia uma dessas bruxas que se vê nos desenhos animados. Como o sol estava incidindo em seus olhos, não pode ver direito. Ela devia estar montada em uma vassoura voadora, com chapéu em forma de cone e vestido negro. O nariz, também não pode vê-lo, mas provavelmente era grande e com uma imensa verruga peluda na ponta. Não conseguiu escutá-la, mas devia estar gargalhando com sua boca banguela.
Foi nesse momento, em que ainda estava observando o inusitado ser voador, que algo caiu bem ao seu lado, quase o atingindo no pé. A coisa ao bater no chão esfacelou-se, respingando uma gosma na perna de sua calça. Num primeiro momento, devido a consistência e a coloração, pensou que devia ser massa encefálica de alguém que ia de carona com a tal bruxa e que caíra da vassoura.
Na verdade, o objeto estranho nada mais era que uma maçã vermelha, grande e suculenta e que agora não passava de uma pasta viscosa sujando a calçada.
— Que bruxa descuidada, deixa cair coisas enquanto voa. Imagina se vai passando uma criança e é atingida na cabeça. Seria morte certa do coitadinho azarado.
Nesse instante, uma velha senhora com um poodle branco sai do prédio em frente, e ao ver o homem parado na calçada olhando para o chão, lhe diz:
— O senhor teve muita sorte. Podia estar morto a uma hora dessas. E eu teria que explicar para todos os curiosos que passassem, enquanto o seu corpo não fosse removido, o que havia acontecido. História difícil de acreditar.
— Então a senhora também viu? Indagou o homem, ainda meio assustado com o ocorrido.
— Claro que vi! Pena que estava com as mãos ocupadas, senão teria filmado toda a cena. Em coisas assim, as pessoas só acreditam vendo as imagens. E ainda desconfiam que possa ser montagem.
— Eu mesmo não acreditaria se me contassem. Ainda nem consigo acreditar no que eu acabei de ver. Falou o homem, agora um pouco mais tranquilo e à vontade com a mulher que compartilhava com ele de sua experiência tão insólita.
— Era uma maçã argentina. Tão bonita quanto cara. Vêm embrulhadas uma a uma em papel delicado. E na caixa está escrito: “Mazanas producidas en la Argentina”. São as minhas maçãs preferidas. Dá até pena quando a gente deixa cair lá de cima. Falou naturalmente a senhora, lamentando-se de sua perda.
— Como a senhora sabe que era uma maçã argentina? Antes de concluir a pergunta já estava olhando os arredores, tentando localizar onde a bruxa estacionara a vassoura. Agora olhando mais detidamente para seu rosto, teve a impressão de ver uma verruga na ponta do nariz da velha.
A senhora estranhou a pergunta do homem, que de novo parecia assustado.
— Por que a maçã era minha. Eu que a deixei cair lá de cima. Falou apontando para o alto de um prédio de quatro andares.
Mas o homem não prestou atenção na direção apontada. E imediatamente lhe perguntou:
— A maçã estava enfeitiçada?
— O que? A velha agora não estava entendendo mais nada. Parecia conversa de doido, pensou a senhora.
— Ah, ali está ela! Pensei que a tinha perdido também. Falou a senhora apontando para uma vassoura que estava largada junto ao meio fio.
Quando viu a vassoura, imediatamente o homem saiu correndo em disparada. Estava tão amedrontado que em nenhum momento olhou para trás. Por sorte a bruxa não o quis perseguir. Devia ser uma bruxa do bem. Gostava de maçã argentina e tinha um poodle.
Para a senhora, aquele homem devia ser mais um desses loucos que andam à solta pelas ruas. O dia não estava sendo nada fácil para ela. O maldito gavião foi querer roubar logo a sua última maçã argentina. Ela havia lavado a fruta preciosa e a deixou no parapeito da sacada, secando sobre uma toalha preta. E num piscar e fechar de olhos a ave larápia deu um rasante e levou pelos ares presa em suas grandes garras a fruta e a toalha preta. Foi aí, que num gesto desesperado, a velha atirou uma vassoura como se fora uma lança, que não atingiu a ave, mas foi suficiente para fazê-la soltar a maçã. O gavião foi embora voando, levando pelos ares a toalha preta presa as unhas.
Perdeu a sua maçã. Mas, por sorte ninguém saiu ferido nem com a queda da maçã, nem com a vassoura arremessada do quarto andar.
— Ah, se eu tivesse filmado! Um gavião voando com uma toalha presa em suas garras. Parecia história do Harry Potter. E até houve testemunhas. Mas palavra de louco não vale. Lamentou-se uma vez mais a velha, ainda se lembrando do maluco fugitivo.
Adorei!muito interessante.
❤️❤️❤️❤️😍
Adorei!!! Essa é ótima!!!
Gostei muito. Envolve na leitura.
Solange Maria de Jesus
Curitiba PR
Perfeito!!!
Sueli Costa de Oliveira
Campo Grande MS