*** Luis Henrique Ávila - -
Faleceu na tarde de quinta-feira (20) o músico, produtor e agitador cultural Vagner Farias, o "Vaguinho", aos 48 anos de idade, mais uma vítima do coronavírus. Ele era um cara tímido, quase calado, mas de muito, muito trabalho. Mais conhecido na cena sul-mato-grossense por ter sido guitarrista da banda de Punk-Rock “Os Impossíveis” durante duas décadas. Tocou nas bandas Astronauta Elvis e Unpunked. Mas o seu grande legado foi como produtor e agitador cultural, principalmente da chamada "Cena Underground". Não há um dado preciso sobre isso, mas estima-se que Vaguinho tenha realizado e produzido algo em torno de 250 a 300 shows, sendo provavelmente “o produtor que mais realizou shows de Rock na história do MS”. Sem nenhum preconceito, mas sempre com um olhar mais atencioso para os estilos mais Underground (punk, hardcore, grind, metal), estilos que muitas vezes encontram dificuldade de espaços e convites para eventos, Vaguinho seguiu uma das mais importantes características do movimento punk: "Do it yourself", ou "faça você mesmo" e, se era difícil encontrar lugares ou ser convidado pra tocar em eventos, porque não criar os seus próprios eventos? E foi assim, se juntando a alguns amigos, dentre os quais Enrique DDO, Alan das Ruas, Letz Spindola, Jean Albernaz e outros amigos de bandas underground, e acabou nascendo a "Panela Eventos", grupo com o qual ele realizou grande parte dos shows. Mas não foi apenas na chamada "cena Underground" ele realizou eventos de blues, soul, pop, classic rock, regional, etc... em muitos destes eu mesmo toquei, e vi como era incrível a correria que ele fazia com seus parceiros. Desde distribuir panfletos e colar cartazes pela cidade, até negociar com produtores de grandes artistas e fazer toda a logística, de comprar passagens, buscar no aeroporto, levar no hotel, restaurante, etc., você via o Vaguinho envolvido em absolutamente todos os processos das produções. Na gíria do futebol costumamos dizer que é aquele cara que "joga em todas, da 2 até a 11". Vaguinho foi o responsável pela vinda de muitas bandas importantes do cenário nacional para o MS, e muitas dessas vieram pra cá pela primeira vez por iniciativa dele, entre eles Ratos de Porão, Autoramas, NX Zero, Korzus, Mechanics, Macakongs, Marcelo Nova. Apoiou as equipes de produção que trouxeram Matanza, Velhas Virgens, Made in Brazil. Trouxe pela primeira vez ao MS pra uma workshop o lendário guitarrista Eduardo Ardanuy (tive a honra de fazer este evento junto com o Vaguinho, e de quebra conheci um dos caras mais incríveis da história da guitarra brasileira). A ousadia do "garoto do underground" trouxe até atrações internacionais: Guitar Wolf (Japão), Margareth Doll Rod (USA), Black Oil (USA), Vagazos (Argentina), The Profane (Paraguai). O Vaguinho também teve participação importantíssima na produção e lançamento dos primeiros CD's de duas das mais importantes bandas do rock-bues sul-mato-grossense: "Procurado" do Bando do Velho Jack e "Envelhecido 12 Anos" dos Bêbados Habilidosos. E tudo isso que foi citado, não corresponde nem à metade do legado que esse cara deixa... No dia de ontem, o Rock do MS perdeu não apenas um grande amigo e um grande músico: perdemos "O Grande Operário do rock sul-mato-grossense" (só de curiosidade, o Vaguinho era operariano). Fica uma perda irreparável pra cultura underground Estado, e uma lacuna que jamais será preenchida, nos palcos, nas produções e no coração de todos que tinham o privilégio de ser amigo deste cara incrível e único. (Obs.: Não posso deixar agradecer as contribuições feitas pra este texto, do Enrique DDO e do Joaquim Seabra, dois dos maiores parceiros de palco e de vida do Vaguinho).
*** É músico e produtor
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