O músico e produtor Luis Henrique Ávila que por muitos anos foi um grande parceiro musical e amigo pessoal do grande artista Zé Pretim, em um artigo (texto) postado em sua rede social, fala do projeto do disco que estava sendo programado para sair no próximo ano. Um depoimento comovente e que deve com certeza ser compartilhado.
"O Álbum dos Sonhos..." Por Luis Henrique Ávila
Estávamos trabalhando em segredo, como todo plano bom e grande deve ser... Mas com a partida inesperada do irmão e parceiro Zé Pretim, não há mais porque guardarmos este segredo: Nós estávamos produzindo seu tão sonhado disco. E vou compartilhar esta história com vocês: Isso foi uma das coisas que me fizeram ficar aqui no Brasil por mais tempo do que eu planejei. Quando cheguei, minha ideia era de passar uns meses com a família, e ir embora em março. Mas aquele encontro-surpresa onde eu trouxe uma guitarra de presente pra ele (tem o vídeo desse dia no Facebook do Jerry), desencadeou muitas outras coisas: dois amigos e parceiros meus e do Zé estavam nesse dia: o Jerry e o Carlos Clementino... E daquela energia mágica da amizade e do reencontro, veio a idéia de reavivarmos um sonho adormecido: o disco do Zé. Quem me conhece de perto sabe, quando fui embora do Brasil em 2018, deixei UMA frustração pra trás: de não ter conseguido realizar a produção de um disco do Zé à altura do que o talento e a história dele mereciam (quase tudo o que se tem de registros do Zé são produções amadoras ou semi-amadoras) E a partir daquele dia, começamos a realimentar este sonho, fazendo reuniões quase semanalmente, escrevendo o projeto, fechando parcerias, orçamento, estúdio, convidados especiais... Até que a Engepar resolveu abraçar este sonho... O disco que o Zé tanto sonhava, finalmente iria acontecer!!! No início do ano, a situação da pandemia também tornava o projeto um pouco arriscado: lembremos que o Zé tinha 67 anos e era diabético. Vamos pelo menos esperar que ele e os músicos estejam todos vacinados. Nesse meio tempo, fomos convidados pra fazer um show (Live) no Projeto Vertentes... E foi nesse dia que eu percebi que o Zé não estava bem... Quem conhece o Zé Pretim, sabe que ele é um cara naturalmente agitado (possivelmente portador de ansiedade), também muito alegre brincalhão... Nesse dia ele estava estranhamente quieto. Chegou um pouco atrasado, nos cumprimentou, sentou-se num cantinho e esperou pacientemente (coisa rara hahaha) todo o processo de montagem de palco e passagem de som. E fizemos o que seria o último show do Zé Pretim. Era dia 8 de maio. Liguei pra ele no dia seguinte, e me disse que estava muito feliz com a banda, já que eu recrutei a banda e ensaiei com eles, mas poupei o Zé dos ensaios por conta dos riscos da pandemia... Mas falei que eu tava preocupado com ele, apesar dele se dizer muito feliz, eu achei ele muito quieto e até um pouco triste, e perguntei se estava tudo bem com ele. Foi aí que ele me revelou: "Sabe o que é, Luis? Eu tô enxergando muito mal... Eu acho que estou ficando cego..." E a partir desse dia, nosso disco passou pra segundo plano. A nossa prioridade passou a ser novamente a saúde dele. Quero agradecer imensamente a Eunice Cunha , amiga do Zé, de longa data, que abraçou essa causa, e começou a levar o Zé pros exames no Hospital São Julião, onde foi diagnosticado catarata, e também danos por conta do Diabetes. E toda vez ela me ligava contando cada detalhe das consultas e exames. Tive um sentimento muito triste quando me vi obrigado a ligar pro Kiko Jozzolino , e desistirmos de participar do Festival de Blues de Londrina... A saúde dele não nos dava condições de viajar. Fiquei com um peso na consciência, mas o Festival foi realizado no fim de semana anterior ao falecimento dele... Quando paro pra pensar que ele poderia ter falecido no meio dessa viagem, vi que foi Deus que nos livrou de um problema gigantesco. E no dia 16 de setembro, aniversário do BB King, o Zé foi encontrado sem vida no seu apartamento. Descansou em paz, seu coração parou de bater enquanto ele dormia. E já que o "Disco dos Sonhos" ficará pra sempre nos nossos sonhos, vou compartilhar com vocês alguns detalhes de como ele seria, pra que cada um de vocês imagine como seria o resultado final disso: * REPERTÓRIO 1) CANTORIA BLUES (Zé Pretim) 2) PRIMAVERA (Zé Pretim) 3) ASA BRANCA (Luiz Gonzaga) 4) CHICO MINEIRO (Tonico e Tinoco) 5) VIOLA BLUES (Zé Pretim) 6) TREM DO PANTANAL (G.Roca/P.Simões) 7) DEIXEI MEU MATÃO* (Geraldo Espíndola) CODINOME BEIJA-FLOR (Cazuza) 9) MUTANTES (Renato Fernandes/Bêbados Habilidosos) 10) QUE JESUS MARAVILHOSO (Mestre Galvao - versão de "What a Wonderful World) 11) RIO DE PIRACICABA (Lourival dos Santos) 12) MOVER DO ESPÍRITO (Harpa Cristã) 13) VIDA CIGANA (Geraldo Espíndola) 14) AO JÔ (instrumental de Zé Pretim em homenagem ao Jô Soares) * BANDA DE ESTÚDIO Zé Pretim - Guitarra e Voz Luis Avila - Guitarra e Slide Luciano de Sá - Baixo Zé Fiúza - Bateria Adriano Grineberg - Piano e Hammond * CONVIDADOS ESPECIAIS: - Greg Wilson (RJ) - Marcos Ottaviano (SP) - Geraldo Espindola - Marcelo Rezende - Clayton Sales - Jerry Espíndola - Cosme Vieira (SP) - Rodrigo Rodtex - João Carlos (* Estávamos trabalhando a hipótese de fazer a reunião do "Lírio Selvagem" - Tetê, Geraldo, Celito e Alzira - para a regravação de "Deixei Meu Matão") Capa do Álbum: Milla Freitas Documentário de vídeo das gravações: Marinete Pinheiro Produção Musical: Luis Avila Produção Executiva: Jerry Espíndola Gravação: Estúdio 45 Captação, Mix e Master: Anderson Rocha Apoio: Engepar Cultural Como produtor, já comuniquei a cada participante, em nome meu e do Zé agradeci a cada um por terem aceitado o convite pra participar... O que mantém um homem vivo são seus sonhos, e este era o sonho dele nestes últimos momentos de vida. Mais uma vez, Gratidão eterna a cada um de vocês .
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