Domingo no Blog do Alex Fraga é dia de poesia com o pároco da Igreja Nossa Senhora do Salete, de Primavera do Leste (MS), P, Osmar Resende, com A Benção Papai!.
“A BENÇÃO, PAPAI”
Osmar Resende
Tarde de domingo. Resolvo escrever sobre meu pai e aí me vêm à mente muitas recordações. Um homem carinhoso, sobretudo para com minha mãe, filhos e netos. Mas também muitos sobrinhos desfrutaram desse carinho.
Trabalhador, lutou tenazmente pelo sustento da família, numerosa por sinal. Foi agricultor, serrador, servente, pedreiro, peão e padeiro. Esportista, lutou pela educação dos filhos.
Esse é mais ou menos o perfil de meu pai. Diga-se de passagem que nós, filhos, chamávamos carinhosamente de “papai”, conforme nossa antiga tradição mineira. E tomávamos a bênção todos os dias ao levantar, ao deitar, ao se depedir: “A bênção, Papai!”. “Deus te abençoe”, respondia o Papai.
Na Fazenda Capoeirinha cultivava uma pequena roça de subsistência. Roça de toco, como se costuma dizer. Mudando pra cidade foi ser serrador na Serraria Marchió, do senhor Alexandre. Depois passou a ser servente de pedreiro do senhor Neca, na construção do Centro de Treinamento de Mineiros. Passou, depois, a trabalhar por conta, como pedreiro, construindo a casa do Antônio Coimbra. A dita casa lembrava a igreja São Francisco da Pampulha, toda cheia de curvas. Depois voltou a trabalhar na fazenda. Desta vez como peão na Fazenda Acampamento do tio José Moares, mais precisamente como capataz. Aí amansou o gado que parecia gado selvagem. Depois voltou pra cidade e aí montou uma padaria. A famosa Padaria Prodoeste, perto do Colégio José de Assis. Aí fez seu pé de meia, conseguindo construir uma casa melhor para acolher os filhos e os netos que foram surgindo. Até que se aposentou.
Aposentado participou do grupo da construção do Emaús. Emaús é um local perto de Mineiros, Goiás, para encontros religiosos, com uma capacidade para mais de cem pessoas. Ele passava a semana lá orientando o pessoal da construção. E fez uma grande amizade com esse pessoal.
Gostava muito de brincadeiras e de vez em quando dava suas gargalhadas.
Os sobrinhos tinham uma certa familiaridade. Favorecia a proximidade. Uma vez um sobrinho com seus dezoito anos teve um conflito com seu pai, ele veio desabafar lá em casa com papai.
Carinhoso, às vezes era um carinho meio selvagem. Gostava de esfregar seu rosto com barba por fazer em nosso rosto, provocando uma certa coceira, um certo prurido.
Às vezes, emotivo. Lembro-me bem quando faleceu minha irmãzinha Magda, com apenas sete anos, quanto ele chorou muito, pura comoção.
Em geral estava sempre alegre. Gostava de uma brincadeira. Entre as tantas, certa vez recebemos a visita de nossos primos, filhos da tia Olinda, na fazenda do tio José Moraes. Por iniciativa dele fomos visitar uma gruta e começamos a dizer que era mal assombrada. Que aparecia uma pessoa no fundo da gruta. Ele pede licença para ir na casa do Sr. Jurandir resolver o problema de uma vaca. Enquanto isto fomos para a gruta. E lá chegando, as crianças foram entrando na frente e, de repente, eis alguém lá no fundo da gruta, com uma lanterna e com a cara preta, produzindo alguns grunhidos estranhos. A criançada voltou apavorada, gritando... Voltando para casa, deram várias sugestões, inclusive de chamar a polícia. Convidaram meu pai para ver, mas ele se fazia de incrédulo e por três vezes disse que não iria lá de novo servir de palhaço. Aí caiu a ficha. Era ele o monstro da gruta.
Certa vez ele pegou em rifle (flobe 22), botou nas costas e passou em frente ao galpão onde meu tio Izá trabalhava como marceneiro. Ele disse que ia atrás de um ladrão de porco que havia roubado de nosso chiqueiro, da chácara. Tio Izá, preocupado, disse: “Deixa disso, compadre, é perigoso”. Papai insistia e meu tio cada vez mais apavorado. Até que Papai deu uma gargalhada, pois era primeiro de abril e não passava de uma brincadeira.
Papai sempre se preocupou com a educação dos filhos. Sendo eu o mais velho, quando tinha sete anos, apareceu na Fazenda Capoeirinha, município de Mineiros, Goiás, um professor: Lourival Benigno Medeiros, mais conhecido como Professor Barbudo. Pois bem, fui pra escola, primeiro no tio Elviro, depois na sede da fazenda, lá no tio José Mendonça. E por fim em Portelândia, então Córrego da Porteira. E quando o Professor sumiu foi até a cidade, a cavalo, e já veio com o uniforme pra estudar na Escola Evangélica... Papai mudou-se para cidade para poder colocar os demais filhos na escola. E fez de tudo pra manter os filhos na escola.
Não me esqueço da caneta que ele trouxe de Jataí. Acostumado a escrever com caneta tinteiro, pela vez primeira meu pai trouxe uma caneta daquelas com carga própria e aquele negócio de apertar... com uma molinha interna...
Esportista, gostava de participar, inclusive, de jogo no Estádio. E lá tinha sua cadeira cativa. Gostava de levar o rádio pra ouvir os comentários e pra vibrar mais com a narração emocionante dos radialistas. Acompanhava o time da cidade, o MEC (Mineiros Esporte Clube) nas cidades vizinhas, levando os jogadores com sua Kombi.
Certa vez, jogando na estrada... Nossa casa era a primeira e última da cidade, dependendo se chegava ou saía. “ALTO BELO HORIZONTE” estava escrito no frontispício. Pois bem, jogávamos aí no corredor, o papai, nós, filhos e alguns sobrinhos, filhos do tio Izá. E, certa vez, meu pai levantou o pé e me acertou a testa com sua botina costurada com arame. Resultado: rasgou minha testa.
Certa vez veio um circo de tourada em Mineiros. Papai estava lá no meio da plateia. De repente oferecem um prêmio para quem não caísse de um burro bravo, pulador. Papai pulou a cerca e lá foi montar no burro. Calçou espora. O burro saiu no picadeiro, mas não deu um pulo, apesar de ele meter a espora. O tempo passou e o burro simplesmente não reagiu. O pessoal do circo não queria pagar o prêmio, pois não caiu do burro. Apelou para a polícia e foram obrigados a pagar o prêmio.
Quando ainda morava na Fazenda Capoeirinha gostava de disputar cancha reta com o pessoal da região. Ele na época era magro e assim era um jóquei super leve e jeitoso. Ganhou várias disputas com vários cavalos e sobretudo com o Petiço do Seu Zequinha. Até que um dia apareceu o Bizarra, que veio a ser sogro de meu irmão Wilmar. Com um cavalo mais potente acabou ganhando a corrida. Colocaram depois a culpa no Pedro Bandeira, que era tido como feiticeiro e teria sido visto mexendo com umas folhas
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