Alex Fraga

26 de mar de 20201 min

Poesia - "Genocíndio", um alerta antigo de Emmanuel Marinho

Em uma época difícil em todo o mundo, não podemos esquecer das classes menos favorecidas. O poeta douradense Emmanuel Marinho há anos vem alertando, e agora devemos ter atenção ainda maior com os índios em Mato Grosso do Sul e em todo o mundo.

GENOCÍNDIO
 

(de Emmanuel Marinho, poeta de Dourados-MS)

( crianças batem palmas nos portões )

tem pão velho ?

não, criança
 
tem o pão que o diabo amassou
 
tem sangue de índios nas ruas
 
e quando é noite
 
a lua geme aflita
 
por seus filhos mortos.

tem pão velho ?

não, criança
 
temos comida farta em nossas mesas
 
abençoada de toalhas de linho, talheres
 
temos mulheres servis, geladeiras
 
automóveis, fogão
 
mas não temos pão.

tem pão velho ?

não, criança
 
temos asfalto, água encanada
 
super-mercados, edifícios
 
temos pátria, pinga, prisões
 
armas e ofícios
 
mas não temos pão.

tem pão velho ?

não, criança
 
tem sua fome travestida de trapos
 
nas calçadas
 
que tragam seus pezinhos
 
de anjo faminto e frágil
 
pedindo pão velho pela vida
 
temos luzes sem alma pelas avenidas
 
temos índias suicidas
 
mas não temos pão.

tem pão velho ?

não, criança
 
temos mísseis, satélites
 
computadores, radares
 
temos canhões, navios, usinas nucleares
 
mas não temos pão.

tem pão velho ?

não, criança
 
tem o pão que o diabo amassou
 
tem sangue de índios nas ruas
 
e quando é noite
 
a lua geme aflita
 
por seus filhos mortos.

tem pão velho ?

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